Os números comprovam: Marx não morreu

Arte sobre ilustração de Rafael Balbueno
Arte sobre ilustração de Rafael Balbueno

Hoje completam-se 197 anos do nascimento de Karl Marx.
Em homenagem, ao invés de lembrar aqui alguma de suas passagens emblemáticas, vale citar alguns números da economia brasileira, divulgados nos últimos dias, que demonstram a atualidade do elemento central de seu diagnóstico.
O crescimento do PIB brasileiro em 2014, segundo o IBGE, foi de 0,1%. Para 2015, a expectativa do governo é que a economia sofra uma contração de 0,9%. Para “sair da crise”, o governo decidiu adotar as velhas receitas recessivas neoliberais, bem ao gosto das finanças, através de ajustes fiscais – corte de gastos públicos e aumento de impostos – e aumento da taxa básica de juros, para estancar a expansão da demanda e controlar a inflação, jogando o ônus da purga para os trabalhadores.
Do outro lado, os dois maiores bancos privados do país, Itaú e Bradesco, apresentaram na última semana seus balanços do primeiro trimestre do ano de 2015.
O Bradesco registrou no período lucro líquido de R$ 4,24 bilhões, um crescimento de 23,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Já o Itaú registrou lucro líquido de R$ 5,73 bilhões, crescimento de 28,2% em relação ao primeiro trimestre de 2014.
Ou seja: enquanto o conjunto da economia vai mal e os pobres pagam o preço pela crise que não criaram, os bancos superam seus próprios recordes de lucratividade.
Quem já teve algum contato com a tese de “O Capital no Século XXI”, de Thomas Pikkety, deve lembrar da fórmula apresentada por ele para explicar a lei tendencial de concentração da riqueza da economia capitalista: r (rendimento do capital) > g (crescimento da economia). A renda do capital cresce sempre mais que a renda do conjunto da economia.
No fundo, o que Pikkety faz, sobre outro prisma teórico-epistemológico e de outra perspectiva política, é dar sustentação empírica e estatística para uma velha, porém atualíssima tese de Marx n’O Capital: a economia capitalista, por estar fundada numa relação de exploração, na medida em que se desenvolve, concentra a riqueza e aprofunda a desigualdade, dissolvendo os laços de solidariedade social.
Em um dos Relatórios do insuspeito Fórum Econômico de Davos – a Meca do Capital financeiro global – deste ano, a constatação é quantificada: até o final de 2015, segundo o relatório, o 1% mais rico da população mundial passaria a concentrar mais riqueza do que os 99% restantes. As 85 pessoas mais ricas detêm 46% de toda a riqueza produzida no planeta – mesmo percentual de metade da população.
Assim, dirá o economista francês, o desenvolvimento material do capital acaba por solapar as bases de sustentação de dois princípios nucleares do ideário liberal:
– a meritocracia: já que os super-ricos não precisaram nem precisam trabalhar para acumular sua riqueza. Basta lembrar que o 0,1% mais rico da população mundial vive, na maior parte dos casos, de heranças e de especulação financeira;
– a democracia: a desigualdade material extrema acaba com o ideário da pluralidade da representação política, transformando o Estado efetivamente num balcão de negócio dos endinheirados e esvaziando o conteúdo democrático da política, expressa na crise de legitimidade dos partidos frente à maioria da população que não vê mais neles canais legítimos de representação das demandas sociais no interior do Estado.
Pode-se concordar ou discordar, amar ou odiar Marx. Faz parte do jogo. Só não é possível, caso estejamos no campo da seriedade, chutá-lo como um cachorro morto. Foi, com certeza, dos seres humanos mais brilhantes que já pisaram neste planeta. Suas ideias e seu diagnóstico transformaram a face do mundo e a história dos povos, e lamentavelmente, continuam a nos assombrar. Inclusive grandes empresários e economistas liberais sérios o leem e reconhecem o valor analítico de suas formulações para compreender o sistema econômico que dirigem.
Eu, mais uma vez, fico com o Sartre: “não tenho culpa se a realidade é marxista”.
 
Os números comprovam: Marx não morreu, pelo viés do colaborador Gabriel Vaccari*.
*Gabriel Vaccari é graduado em Filosofia, mestrando em Ciências Sociais pela UFSM e militante do Levante Popular da Juventude

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