LIBERTAÇÃO – A CAMINHO DA REDENÇÃO

 
Sempre foste um menino.
Mesmo quando o destino lhe
impôs responsabilidades que não
deviam ser de um garoto de 15 anos:
foste homem e menino.
 
Homem por alimentar
uma família inteira de muitas
e tantas bocas familiares ─ e agregadas.
Homem na hora do braço firme.
De dar peito e sangue vivo ao batente.
Lutar pelo pão de cada dia.
 
Menino por ter os olhos brilhantes
quando o almoço, com o teu suor, era servido.
Todos os dias, sem falhar, sempre pontualmente.
Menino na hora de receber o pagamento.
Bobo como se ganhasse um brinquedo novo,
mas logo era acometido pela consciência
do homem maduro e sério ─ o investimento
necessário e único: tua família,
e os agregados que também eram teus.
 
 
Sonhaste com um mundo todo teu.
Viveste nas entrelinhas das metáforas.
Trabalhaste e serviste para os outros ─
não para ti. Mas esta era a tua consolação.
O servir em nome de outrem. Para outrem.
Criastes laços de amor. Fizeste tua família.
Ainda jovem, mais e outras tantas responsabilidades.
Encaraste-as no peito. No braço. No coração.
Filhos teus. Tuas meninas.
Todas as três com o teu nome.
O teu sangue.
 
Nunca deixaste de ser menino.
Embora eu seja a tua última:
nunca deixaste de ser o meu menino.
 
 
Acordasses, aquela vez, lembra?,
no meio da noite,
com medo do pesadelo.
Gritasses por mim, pelas tuas gurias com os teus genes.
Fui eu quem acendeu a luz.
E te tirei do medo do escuro.
Ali, com os olhos tristes e a fronte suada:
eras o meu menino.
Dei-te o teu sorvete preferido.
Dei-te meus sorrisos também
para espantar os monstros do
teu maior pesadelo.
Dei-te meu amor,
porque em toda a minha vida,
até o último suspiro,
foi, se não, só amor que me deste.
 
Ali, mais ainda, fosteso meu menino,
 meu guri.
 
 
No meio do pesadelo,
Entre dor e desespero do futuro
que não viria na terra – mas em outra morada,
pedisses meu consentimento para partires.
 
Pedisses em voz rouca, mas alta,
mas lúcida. Todas nós ouvimos.
O pedido foi para mim: liberta-me!
E como se eu detivesse de todos os poderes divinos,
sorri e disse-te em segurança ─ que não costumeira minha:
Eu te liberto! Estás livres!
Formou-se sorriso teu. Lúcido, apesar de.
 
 
Depois de tantas chuvas fecundas –
em limpar e renovar a terra, a alma, a vida –,
já não tivesses o mesmo medo de outrora.
Estavas plácido. Como o céu de hoje.
 
 
Agora,
tens os olhos cerrados do menino que sonha.
Olhos cerrados do homem que nunca
deixará de viver entre nós.
 
Somos tu.
 
O homem que conheci e sempre me orgulhei.
O do embalo. O do canto e encanto:
eu te liberto, nova e mais significativamente dessa vez.
Eu te liberto nestas linhas,
para viveres a vida somente para ti.
Eu te liberto de meu coração ─
inconformado e amargurado  ─
para somente seres feliz
onde quer em que nuvem estejas.
 
Eu te liberto, eu te amo.
Volte a viver!
 
LIBERTAÇÃO – A CAMINHO DA REDENÇÃO, pelo viés da colaboradora Fabíola Weykamp*
*É estudante de Letras na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Já publicou na revista o Viés com ‘O Crucifixo’.

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