PM DA BAHIA: SECTARISMO E DIREITO À GREVE

A Bahia está um caos. A greve da PM tem deixado o governador, do PT, de joelhos e até intervenção federal pode estar a caminho – alguém duvida?

A Força Nacional já está patrulhando as ruas e o ministro Cardozo supervisiona e o governo parece não saber o que fazer. Atira a esmo. O interessante de toda a história é que, apesar dos inúmeros pedidos, não houve qualquer intervenção ou visita de ministro a Pinheirinho. De fato, não estou comparando os casos, mas apenas mostrando que, quando a “confusão” é em estado governado pelo PT, é preciso apagar o fogo mais rapidamente.

Deixo claro de início que considero a PM uma organização criminosa. Uma organização falida, ultrapassada e criminosa. Mas não todos os PMs – ainda que, acredito, a maioria seja realmente composta por bandidos – sejam eles efetivos ladrões nas horas vagas ou criminosos cruéis na repressão aos direitos do povo.

Acho interessante como petistas que gritavam que o “pacto federativo” não podia ser quebrado pela querida presidente(a) quando pobres eram espancados pela PM no Pinheirinho, ou quando apanhávamos na Sé (e Dilmão – apelido carinhoso dado pela aliada Katia Abreu – recebia prêmio do Kassab, o neoaliado), ou mesmo quando fazem silêncio à ação criminosa da PF conta indígenas Tupinambás na mesma Bahia em crise, mas aplaudem governador do partido dos…. “trabalhadores” quando este diz que não irá negociar com grevista e aplaudem mais ainda quando a Força Nacional chega à Bahia!

PM versus trabalho

A corporação em si precisa acabar, ser eliminada sem deixar rastros. Instrumento legítimo de tortura nas mãos de governadores, continua sobrevivendo por uma simples razão: são o aparelho repressor do Estado para atacar os pobres e garantir os privilégios das elites. E fazem muito bem esse serviço sujo.

Mas, mesmo sendo a favor do fim da PM, não posso dizer que não é legítimo, como trabalhadores, que façam greve. Se o Estado os emprega, os considera legítimos, então são legítimos seus direitos. Discutir a legalidade ou não da PM fazer greve  – à luz da constituição ou da legislação – não é o caso. Fato consumado.

Os próprios membros da PM, normalmente, não se veem como meros trabalhadores. São a arma na contenção das revoltas e das reivindicações de outros trabalhadores, o braço da “lei”, mesmo que eles nem saibam qual lei deveriam estar cumprindo e, claro, muitas vezes são os justiceiros que atiram na cabeça de “bandidos” para “limpar” a cidade e, em outras, são os próprios bandidos, complementando salário.

Mas a PM está em greve e devemos lidar com fatos. E não tem nada mais tosco que petista se opor ao direito de alguém fazer greve!

Os falsos argumentos

Nas redes sociais vemos, não sem um pouco de estupidificação, uma defesa intransigente da repressão à greve legítima da PM. Os argumentos variam e são todos, em geral, absurdos. De um lado, há os que digam que, em comparação com os salários da região Sul do estado, por exemplo, eles ganham acima da média. Sim, pouco mais de 2 mil reais. Quando achamos que a reclamação deveria ser pelo fato dos demais ganharem pouco, o problema é que a PM, em tese, ganharia muito.

Realmente, arriscar a vida por 2 mil reais deve ser um paraíso na terra. E, ademais, o fato de ganhar supostamente bem nunca impediu nenhum movimento de reivindicar melhores condições ou mesmo de manter-se ativo na garantia de que não será precarizado.

Este falso argumento de que os salários da PM, em comparação a uma determinada localidade escolhida arbitrariamente, seriam bons, altos, mascara além de um preconceito claro contra a profissão – do qual sou forçado a admitir que também tenho -, mas também um perigo às reivindicações de outros movimentos que podem ter relativizadas suas demandas mesmo frente ao país inteiro: “Em país onde salário mínimo não chega a mil reais, porque X, Y ou Z quer ganhar mais do que isso”? Temos então o argumento perfeito para inviabilizar praticamente toda greve.

Essa argumentação esconde ainda outro problema, a de comparar profissões nivelando por baixo. Oras, o salário de um PM da Bahia é quase o piso dos professores de estado X ou é maior que a dos médicos do estado Y…Então nivelemos tudo por baixo, não permitindo que os salários da PM sejam elevados? Por que não lutamos para que os outros salários é que cresçam e façam jus à relevância do médico, do professor…?

Fla X Flu

É o velho flaXflu PT e PSDB. Sempre o seu lado está certo e o outro está errado.

“Acusam” o líder da greve da PM de ser filiado ao PSDB. Oras, então greves comandadas pelo PT, quando este era oposição, eram legítimas, mas do PSDB na oposição não? Aliás, tem jornal dizendo até que o cara é do PSOL, mas no duplipensar petista dá no mesmo.

E, deixo claro, acredito ser possível encontrar mais policiais honestos do que tucanos honestos e decentes. Mas isso não significa que uma greve comandada pelo PSDB seja menos legítima, em tese, que uma comandada pelo PT.

Por mais risível que seja um sindicalismo tucano, cada vez mais o sindicalismo petista se mostra tão vergonhoso e envergonhado quanto.

Um exemplo? A CUT, historicamente ligada ao PT, ensaiou protestos contra a privatização dos aeroportos… tocada pelo PT! O partido que comanda a CUT é objeto de protesto por parte de sua central, mas a cúpula do partido não dá a mínima para as reclamações da base e da cúpula sindical.

Excessos

A PM se excedeu, o que acontece é um motim, é violento e etc….ok, não discordo. O que esperar de marginais fazendo greve, mesmo que nem seja a minoria tocando o terror? Quando você entrega nas mãos de gente despreparada, incapaz e sem sequer educação formal decente (só precisa ter ensino fundamental pra ter uma arma na mão e se achar “autoridade”), a segurança de um estado (e não do povo, sejamos honestos) espera que aconteça o quê?

São mais de 30 municípios baianos e com a polícia em greve e há relatos de “confusão”, de casos sérios de violência e violações em Salvador, mas é do interesse do governador da Bahia, Jaques Wagner, e da militância petista tomar parte pelo todo e esvaziar e criminalizar uma greve…

“Esvaziar e criminalizar uma greve”, palavras tão comuns na era FHC e que vêm se tornando cada vez mais comuns no regime do partido dos “trabalhadores”.

Mas o fato é que a PM existe, é extremamente mal paga e está em greve. Essa é a realidade. Há, no Congresso, a tramitação da PEC 300 que poderia melhorar um pouco a situação, mas o governo faz pouco caso.

Pessoalmente, repito, defendo a extinção da PM. Segurança tem que ser civil e ter amplo controle cidadão sobre seu funcionamento. Mas sabemos que a Polícia Militar serve aos propósitos de governadores, como as GCM, armadas, servem aos interesses dos prefeitos (GCM é polícia patrimonial, não faz entido andar armada, apenas se há interesses políticos e higienistas por trás).

E a blogosfera…

Me doem os olhos ver blogueiro(a) fazendo assessoria pra governador que, quando na oposição, patrocinou greve da PM. Até o Lula, quando era oposição – como é fácil ser oposição e atirar pra todos os lados, não? -, antes da Carta aos Brasileiros, quando o PT ainda entendia o que significava o “trabalhadores” no nome, declarou que o salário da PM era “mixo” e que isso JUSTIFICAVA greve.

Vejam declaração de Lula:

“Acho que, no caso da Bahia, o próprio governo articulou os chamados arrastões para criar pânico na sociedade. Veja, o que o governo tentou vender? A impressão que passava era de que, se não houvesse policial na rua, todo o baiano era bandido. Não é verdade. Os arrastões na Bahia me lembraram os que ocorreram no Rio em 92, quando a Benedita (da Silva, petista e atual vice-governadora do Rio) foi para o segundo turno (nas eleições para a prefeitura). Você percebeu que, na época, terminaram as eleições e, com isso, acabaram os arrastões? Faz nove anos e nunca mais se falou isso”, disse Lula.

Mas hoje o PT não é mais oposição. Nem no país e nem na Bahia, então as coisas mudam. PM só serve pra dar porrada quando o governo manda e acabou.

Por que será que, quando o PT era oposição, os “arrastões” eram obra do governo, mas, quando o PT é governo, ninguém nem atenta pra essa possibilidade? Que fique claro que eu acho que a posição do Lula era equivocada. PM é bem capaz de fazer até pior – e faz. Mas a mudança de comportamento oposição/situação é claríssima!

E isso se repete sistematicamente. Pinheirinho? Estado é do PSDB, pau nele. Tupinambás? Bahia, PT e PF no meio! Ficamos calados pra não comprometer. Greve dos professores em estado tucano? Apoiamos! Greve dos professores federais? Escondemos ou chamamos de oportunistas só!

Guarani-Kaiowá? Opa, é governo federal no meio, vamos ficar calados e fingir que não acontece nada. Assim como com Belo Monte, é o governo federal, então ou a gente apoia cegamente ou cala a boca pra não dar pano pra manga.

As palavras usadas muitas vezes, como “agitadores”, “provocadores”, “vândalos arruaceiros” são as mesmas – e na mesma entonação – do período FHC.

O fim da PM

Chego à questão principal: se a PM é tão terrível – e é -, por que Dilmão, que tem MAIORIA no Congresso (fez alianças com deus e o diabo, especialmente o diabo, e hoje tem maioria) não põe um fim à PM?

Aí os petistas logo irão dizer que não dá, porque o apoio no Congresso não é automático, que é difícil e blablablá. Oras, eu me pergunto: mas, se o apoio não é automático, por que os cargos, benesses e caixinha são? PP, PMDB, PR e cia. têm ministérios, cargos, comissões, mas só apoiam o que querem? Que “apoio” é esse?
O PT fez greves a vida toda – ao menos até virar governo, porque hoje até a CUT é forçada a protestar contra privatização petista e o próprio PT vai esconder e enterrar a CPI da Privataria Tucana, talvez com medo que, em alguns anos, a sua privataria seja escancarada, afinal, uma mão lava a outra – e apanhou da PM, mas hoje onde governa sabe usar a PM e, por isso, não tem interesse em seu fim. Apenas fazem discursos ridículos quando são contrariados.

O papo da “herança maldita” não cola mais. O PT está há 9 anos no poder e não demonstrou interesse algum nem em reformar a PM nem em acabar com ela nem em sequer votar a PEC 300. Segurança pública não é de interesse do partido dos trabalhadores que criminaliza greves. Aliás, a greve dos professores federais ano passado foi tratorada.

Os professores não tinham armas. A PM tem. Então a “solução” é usar o PIF, o Partido da Imprensa Favorável, a tal blogosfera progressista,  pra fazer assessoria contra a greve, mas só contra as que interessa abafar.

Argumentos fanáticos-petistas pífios

Greve da PM é ilegítima e ilegal —> Então por que o Wagner apoiou greve “ilegítima e ilegal”, e também ao Lula, no passado?
PM está “chantageando” o governo —> FHC dizia a mesma coisa de toda greve contra ele… “Chantagem” é pedir melhores salários? Então proiba-se logo toda greve!
PM está sendo violenta —> Que os culpados sejam punidos, mas as reivindicações da maioria não podem ser tratoradas.
PM é um câncer —> Então por que Dilmão, que tem MAIORIA – às custas de ministérios, cargos, comissões e “caixinha”, vulgo Mensalão – no Congresso não vota pra abolir a PM?
Mas não é maioria incondicional —> Mas os ministérios e as mamatas são.
Tem que fazer aliança pra governar —> Então governa, porr*! Aliança não falta, só o PSDB e o DEM tão de fora – até quando, não sei!
Herança Maldita —> só se Dilma tem herança maldita do Lula, porque o governo veio dele. E são 9 anos pra mudar alguma coisa. A desculpa vai colar até quando, 2050?

Conclusão

Em 2001 o PT defendeu greve da PM na Bahia, mas era oposição.

Hoje é situação, então só apoia as greves nos estados do PSDB. E a militância fanática assina embaixo. Em 2001, o PT acusava o governador de tocar o terror pra acusar a PM. Hoje o PT acusa a PM pelo terror que PODE ter sido também, em parte, orquestrado. Claro, em ambos os casos é possível e provável que seja culpa mesmo da PM, mas notem os posicionamentos.

A PM continua aí e continuará – e o PT saberá usá-la sempre que “necessário”, assim como faz o PSDB e TODOS os demais partidos que tem algum poder. O mais lamentável, porém, é a assessoria vergonhosa que governistas fazem pra governador safado e governo federal altercapitalista e privatista.

PM DA BAHIA: SECTARISMO E DIREITO À GREVE, pelo viés do colaborador Raphael Tsavkko*

*Raphael Tsavkko é Jornalista, Mestrando em Comunicação (Cásper Líbero), Bacharel em Relações Internacionais (PUCSP) e blogueiro. Mantém o endereço Blog do Tsavkko – The Angry Brazilian, escreve (quase) semanalmente/mensalmente a coluna  “Defenderei a casa de meu pai” no portal anticapitalista Diário Liberdade, e autor e tradutor do portal Global Voices. Já colaborou diversas vezes com a revista o Viés, disponíveis aqui.

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