OS POLONESES, TRABALHADORES DÓCEIS E MAL AMADOS

Empregados na agricultura e na construção civil, os poloneses são frequentemente vítimas de agências de trabalho temporário neerlandesas, pouco escrupulosas, que lucram com sua miséria.

Pessoas à beira do lago do Park Łazienkowski, em Varsóvia. Foto: Gianlluca Simi

Cerca de 30% dos neerlandeses veriam a presença de poloneses nos Países Baixos com maus olhos e, para aos políticos, tornou-se uma questão de super-oferta. Um vereador da cidade de Haia fala dum “tsunami” que seria formado pela comunidade polonesa de 30 mil pessoas em sua cidade. Outro vocifera “um bando de analfabetos”. De acordo com o ministro da imigração, os pedidos de auxílio social dobraram desde 2010. De sua parte, os poloneses reclamam que lhes furam os pneus, recusam-lhes acesso a boates e zombam de seus filhos na escola. Mark, 50 anos, um neerlandês que mora em Varsóvia (capital da Polônia) , hesita em visitar seu país com um carro emplacado na Polônia. “Seria uma pena para o carro”, explica ele.

Logo depois de 1989, os poloneses vinham aos Países Baixos colher morangos, plantar tulipas e comprar carros usados. “Uma vez por semana, a cidade entrava na hora polonesa. Eles chegavam de noite, sete bigodes num FIAT, estacionavam e dormiam em qualquer lugar. Compravam um caco velho e partiam na manhã seguinte”, conta Jens, quem, à época, era estudante e ajudava seu pai a vender carros usados num mercado ao ar livre em Utrecht. Ele tinha pena dos poloneses, pois os vendedores, em sua maioria imigrantes provindos de antigas colônias – Marrocos, Antilhas, mas também Turquia – instalados nos Países Baixos, eram irredutíveis em fazer negócios com os recém-chegados.

ELES TRABALHAM SEM RECLAMAR

Os Países Baixos eram, à época, uma espécie de laboratório modelo de tolerância e convivência, mas um desconforto crescente era perceptível na população. Sobretudo com pessoas de cor [sic]. Em todo caso, isso não dizia então respeito aos poloneses nem às batidas policiais nas lavouras, onde eles eram empregados massivamente, nem às espetaculares expulsões, que nunca se tornaram uma fonte de confrontos sérios. “Havia estudantes que falavam duas palavras em inglês. Eles se abrigavam entre dez num trailer feito para quatro, roubavam bicicletas e ficavam bêbados, mas iam embora perto de outubro”, explica Jens.

Depois da abertura do mercado de trabalho, em 2007, entre 100 mil e 200 mil poloneses desejosos de trabalhar na agricultura e na construção civil conglomeram-se nos Países Baixos, principalmente no verão. Mesmo que cinco vezes mais do que previsto, a maioria entre eles encontrou emprego. Grandes agências de trabalho temporário neerlandesas se puseram a recrutar poloneses para que trabalhassem em fazendas e lavouras. Estas logo se deram conta de que, ao contrário dos trabalhadores locais – mimados pelos benefícios e pelo auxílio social -, os poloneses poderiam trabalhar de 40 a 60 horas por semana, rapidamente, sem reclamarem, pois não conheciam a língua, e sem ficarem doentes, pois não conheciam seus direitos suficientemente.

Alguns comparam essas agências a escravagistas de tempos modernos. Elas têm filiais por todo o país e, como antes em barcos, trazem de miniônibus a nova mão-de-obra dócil.

MENOS DE 1.000 EUROS POR MÊS

“Um trabalhador polonês pode efetuar várias tarefas ao mesmo tempo. Um soldador neerlandês se contenta com soldar. Pouco flexíveis, nós fazemos horas extras, aprendemos rapidamente e aceitamos o trabalho que os neerlandeses, os marroquinos ou os turcos recusam”, explica Artur Ragan, porta-voz da Work Express, escritório de recrutamento polonês especializado em construção civil.

A especialista em imigração polonesa aos Países Baixos, professora Patrycja Matusz-Protasiewicz, da Universidade de Breslávia, monta um esboço dum trabalhador polonês. Na maioria dos casos, são homens vindos da região da Silésia (entre a Polônia, a República Tcheca e a Alemanha), com nível de educação básico ou médio. A agência lhe aluga acomodação barata que ele divide com seus companheiros. Ele retorna à Polônia depois de treze meses passados nos Países Baixos. Ele ganha pouco, mal chega a mil euros por mês para a maioria deles, e sonha em ter seu próprio apartamento.

EXPULSÁ-LOS SERIA CONTRA AS DIRETIVAS EUROPEIAS

Contrariamente ao que afirmam os populistas, as taxas de desemprego entre os imigrantes poloneses é de 3,5% (para uma média nacional que é de 6%), que é menos do que entre outras comunidades de imigrantes. Apesar de tudo, um projeto de lei foi levado ao Parlamento, propondo que se reenviassem todos aqueles que ficassem mais do que três meses desempregados. O que contraria uma diretiva da União Europeia, que estipula que todos os europeus podem permanecer por seis meses onde quiserem. É ainda mais impressionante quando sabemos que os poloneses trazem ao Tesouro 3 bilhões de euros na forma de imposto.

Os poloneses se tornaram rapidamente vítimas de intermediários que lucram em cima das lacunas da legislação trabalhista europeia. Por exemplo, se uma empresa sediada na Polônia compra uma safra antes da colheita, ela pode então confiá-la a poloneses que são pagos de acordo com parâmetros poloneses, isto é, 3 e 4 euros por hora. É também isso que propõem as pequenas empresas neerlandesas constituídas por uma só pessoa, que têm o direito de pagar a mão-de-obra abaixo do salário mínimo. Na linguagem informal, chega-se a utilizar a expressão polenconstructie (‘construção polonesa’) como sinônimo de burlar a lei. 

OS POLONESES, TRABALHADORES DÓCEIS E MAL AMADOS, pelo viés da colaboradora Ewa Winnicka*, traduzido pelo viés de Gianlluca Simi

*Ewa Winnicka é jornalista do semanário polonês Polityka. A versão aqui traduzida foi publicado no Courrier International.

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