Boate Kiss: há quase dois anos, desrespeito e impunidade

Protesto realizado por parentes das vítimas durante a limpeza do prédio da boate Kiss. Foto: Dartanhan Baldez Figueiredo.

Segundo o juiz Ulysses Fonseca Louzada, caberá aos familiares de vítimas, dentro de um prazo de 30 dias, apresentar à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) um plano para a descontaminação dos objetos que ainda estavam na boate Kiss. Ainda de acordo com Louzada, os familiares terão de pagar pelo serviço. Equívoco? Talvez, porém a visão que se tem é que, para fazer valer o poder, criam-se obstáculos com visível descaso e desrespeito à dor dos familiares.

O Juiz, ao afirmar que o custo da descontaminação dos pertences dos filhos seria dos pais e que deveriam ter solicitado antes essa apreensão, deixa reticências na responsabilização do caso Kiss em detrimento dos verdadeiros culpados. Lembra-se, ainda, que não houve aviso prévio de tal obrigatoriedade, sendo imposta de última hora.

Os pertences retirados dos escombros contêm tóxicos altamente prejudiciais, justificando a dureza na descontaminação. Os pertences dos filhos foram liberados aos pais, que entraram em contato com agentes tóxicos, colocando em risco sua saúde, assim como amigos e voluntários que poderão ter doenças graves, subentendendo-se que podem requerer indenização por danos físicos e morais. No caso dos pais, que estão nesta luta para provar o óbvio e são desrespeitados e desprestigiados em seu direito justo de obter a verdade dos fatos (com total e absoluta transparência), ainda há a possibilidade de um agravante moral.

Onde fica o respeito, a justiça e o direito? Os pertences não foram parar lá por acidente, por fatalidade, por acaso ou por vontade dos pais e de seus filhos. Todos acreditavam estar seguros e foram mortos. Portanto, não é obrigação dos pais limpar os pertences, não foram eles que causaram este caos. Seria assumir uma culpa que não é deles. Essa foi mais uma ofensa aos pais, que culminou no protesto de arrecadação dos valores para custear a descontaminação e, principalmente, com a finalidade de informar a todos a realidade em que vivem, pois constantemente estão sendo obrigados a lutar para que a justiça seja feita e para que não caia no esquecimento, como tudo indica.

Quais são os verdadeiros responsáveis por este massacre? Quais os omissos, irresponsáveis e gananciosos que liquidaram com a vida e a beleza de seus filhos em questão de minutos? Estas respostas deveriam estar respondidas antes de eliminarem as provas físicas do massacre para evitar esses empecilhos impostos aos pais… Como pode as vítimas serem consideradas culpadas? Os avisos foram dados ao poder público, que sabia um ano antes de tudo que iria acontecer, com detalhes. Como pode optar por não fazer absolutamente nada para impedir e permanecer colocando impedimentos em tudo o que os pais solicitam? O mínimo a fazer é respeitar os familiares e parar de colocar obstáculos, pelo menos em respeito ao ar que respiram e à boa saúde que têm, pois os pais mantiveram, desde o início, atitude honesta, íntegra e continuam mantendo, estão em busca da verdade dos fatos e não calarão suas vozes até que a justiça seja feita.

A atual solicitação dos familiares diante do PAC emitido pelo Ministério Público para a descontaminação do prédio em pleno dezembro e dos impedimentos impostos é de perplexidade. Enquanto o MP deveria ser um órgão de defesa do interesse do povo, o coloca em posição desfavorável, tendo que lutar para provar o obvio. Quanto à desapropriação do prédio e deixá-lo em nome da Associação é o mínimo que as autoridades deveriam fazer por ser justo e de direito. A princípio, não mexer no prédio para manter as provas até que a justiça fosse feita seria o almejado, semelhante à Argentina [no caso da boate Cromaron], porém, houve substancial modificação e adulteração do visual por ordem do juiz responsável e retirada das provas e objetos…

Ficam as indagações dos pais: por que isso foi feito? O que pretendem? Vender o prédio, entregar a chave ao proprietário? Seria um desmerecimento e afronta aos familiares…Querem que todos esqueçam? Isso não é possível. Este prédio é o símbolo do descaso com a vida de 242 jovens, é o símbolo da impunidade até que a justiça seja feita, até agora não há motivos para erguer memorial aos filhos, as injustiças continuam ocorrendo. Porém, assim que a justiça for feita, sim, será erguido memorial merecido naquele mesmo local.

Boate Kiss: há quase dois anos, desrespeito e impunidade, pelo viés do Movimento Santa Maria do Luto à Luta.

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