O EXÍLIO EM TEMPOS DE MILÍCIAS

Deputado Estadual Marcelo Freixo. Créditos: Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!…

Há quantos anos o Brasil não ouvia o termo exílio com temores obscuros de força a resguardar uma vida? A precaução dos exilados durante a Ditadura Militar “economizou” milhares de vidas apenas por terem-nas afastadas do território nacional e da ordem política a qual estava instalada na época. Com a política militar vigente, os brasileiros que lutaram por democracia e pelo fim das atrocidades do poder contra seu próprio povo fugiram, sumiram, viajaram, “foram convidados a escolher uma nova pátria” para que os planos dos poderosos não fossem afetados. Tais cidadãos sentiram no peito a dor de assistir de longe seu país ser desgraçadamente engolido pela sujeira vestida de segurança, de governo progressista, de crescimento nacional nunca visto antes. Literalmente, o lobo vestido de cordeiro.

Contudo, no Brasil do século XXI, o Brasil da mesma propaganda de desenvolvimento, de empregos a saltar pelos quatro cantos do país, o Brasil do Programa de Aceleração do Crescimento, o Brasil gigante que “acorda” na propaganda do Johnny Walker, o Brasil da “democracia” e dos exilados agora no poder, tem que responder como um todo, como um povo, porém, antes de tudo, como um governo dito do lado do povo, o porquê de ainda obrigarmos filhos da pátria mãe gentil a fugir, a exilar-se, a esconder-se para assegurar o direito de viver.

Não é novidade que o Deputado Estadual pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL – Marcelo Freixo, há anos vem recebendo ameaças de morte por parte da banda suja que toma conta do Rio de Janeiro da Copa de 2014. Marcelo, só em outubro deste ano, recebeu sete ameaças de morte. Para os mais desavisados, o deputado Marcelo Freixo foi aquele que em 2007 deu início ao processo de investigação sobre as milícias do Rio de Janeiro. Em entrevista ao Jornalista Alexandre Haubrich na revista o Viés, o deputado afirmou que “não foi uma CPI fácil de ser aprovada, mexia com interesses muito poderosos do Rio de Janeiro e com interesses dentro do Parlamento. O principal miliciano era deputado junto comigo”. Na época, Freixo entrou com o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para desmembrar o sistema miliciano da cidade, o qual culminou, no final de 2009, na prisão de 275 milicianos, conturbando a visão pública sobre o que literalmente eram as milícias, um formato diferente de aparelhamento do crime organizado dentro de comunidades humildes formado, principalmente, por policiais e ex-policiais que cobravam taxas ilegais aos moradores em troca de “segurança” e comandavam determinada localidade da cidade. Muitos milicianos contavam com o apoio de dezenas de políticos influentes por debaixo dos panos.

A partir da CPI das Milícias, o espectador do filme “Tropa de Elite 2” pode reconhecer melhor a imagem do deputado Freixo no professor engajado, militante das causas sociais protagonizado pelo personagem sub-protagonista Diogo Fraga, o qual foi concebido tendo Freixo como modelo na criação. As semelhanças não são mero acaso. (Ver o filme).

Depois disso, vários outros trabalhos no legislativo fluminense deram a Freixo uma evidência maior. Encetou a CPI para desvendar o desvio de verbas da Federação de Futebol do Rio de Janeiro. Em 2008, pediu que fossem cassados os deputados envolvidos em escândalos dentro da Assembleia Legislativa do Rio, determinando a cassação das deputadas Renata do Posto (PTB) e Jane Cozzolino (PTC), as quais foram acusadas de envolvimento no escândalo da bolsa fraude. A bolsa fraude funcionava da seguinte maneira: os deputados fraudavam o auxílio-educação através de aliciadores que atraíam pessoas com muitos filhos com a promessa de inscrição no Programa Federal Bolsa Família. As vítimas eram chamadas a comparecer à Assembleia do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para assinar alguns documentos. Sem perceberem, assinavam também nomeações fantasmas. Assim, eram “empregadas” na casa através de algum deputado, mas seus ordenados eram destinados aos bolsos dos legislados envolvidos.

Por essas e por muitas outras ações contra o domínio do crime em subverter as leis e criar uma ordem paralela de governos onde o Estado não chega que Marcelo Freixo fora convidado pela Anistia Internacional e pela Front Line Defenders para comparecer durante um mês no continente europeu a fim de ministrar palestras sobre o caso das milícias. Por medida de segurança, o local de destino não pode ser divulgado. Sua assessoria de imprensa, a Anistia Internacional e a Front Line Defenders não esconderam que a ação foi sim planejada para afastar Freixo do Brasil durante o mês de novembro no intuito de que a segurança nacional brasileira estude o caso com maior precaução, coisa que não fez durante todos estes anos. Freixo sempre andou acompanhado de guardas de segurança, carros blindados e tinha sua casa protegida 24 horas por dia. Mas, nos últimos meses, um relatório da Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar apontou à Alerj que Freixo estava na mira do miliciano conhecido como Carlão. Representantes de distintos partidos políticos e entidades sociais se reuniram num ato em defesa do deputado. O Brasil vive uma situação crítica que tem de se tornar uma luta geral de todos. Vale lembrar o infeliz assassinato da juíza Patrícia Acioli, o qual faz parte da lista de crimes de responsabilidade do poder paramilitar que se instalou na capital fluminense. E o Estado, onde está? Sentado em Brasília, no Palácio Guanabara? Ou nas prefeituras à espera de mais mortes, tanto de militantes por uma pátria menos corrupta quanto de moradores submissos à sujeira do poder paralelo? É, as correntes e os canais da política, infelizmente, vêm nos mostrando que presidentes, senadores, governadores, deputados, prefeitos e vereadores às vezes se calam em nome da manutenção de seus cargos, de seus salários vergonhosamente abissais e de seus postos de poder que não querem largar para manter sua base ostensiva de votos, o único dado que lhes interessa.

“Que país é esse?” nunca deixou de ser atual. Mas essa pergunta poética é vergonhosa tanto para nós, cidadãos eleitores, que temos a força do voto para ao menos tentar mudar o rosto de nossas assembléias, quanto para os próprios eleitos, filhos também da pátria mãe gentil que, em certos casos, têm a conta bancária e a força eleitoral como únicas preocupações. Mas muitos filhos, Brasil, ainda têm orgulho de cantar: “Verás que um filho teu não foge à luta, nem teme, quem te adora, a própria morte”. Mesmo que a morte suja não seja propriamente o final esperado para os que te amam.

O EXÍLIO EM TEMPOS DE MILÍCIAS, pelo viés de Bibiano Girard

bibianogirard@revistaovies.com

@bibsgirard

2 comentários em “O EXÍLIO EM TEMPOS DE MILÍCIAS

  1. Petistas fanáticos, governistas fundamentalistas e afins, logo após as denúncias feitas pelo Freixo, do estouro na mídia e de sua saída do Brasil começaram a acusar o Freixo de ser pilantra, frouxo, de querer se promover…
    Realmente, Freixo deve mesmo querer se promover tendo sua família na linha de tiro de milicanos possivelmente ligados ao governo apoiado pelo… PT! E esta ligação entre milícias e PMDB é denunciada pelo próprio Freixo, dentre outros, que fique claro.
    Na intransigência da defesa do governo federal e do PT, fanáticos partem para o ataque do único, repito, ÚNICO deputado que tem que conviver diariamente com escoltas para não ser morto por milícias, que não pode fazer campanha em diversas partes da cidade por estar jurado de morte e que vem fazendo um trabalho ímpar de limpar a cidade e o estado do Rio desta corja sustentada por diversos outros políticos – presos ou ainda soltos.
    Na tentativa de defender a aliança do PT com o PMDB, criminalizam um dos raros políticos que lutam pelos Direitos Humanos e contra as Milícias no Rio, enquanto políticos do PT, por exemplo, investem nos despejos da população pobre da cidade.
    http://www.tsavkko.com.br/2011/11/marcelo-freixo-entre-o-fanatismo-e-o.html

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