UMA LEGIÃO SILENCIOSA

Foto: Tiago Miotto.

Era uma noite de lua cheia. No lugar do fervor comum da estação, uma legião silenciosa de 35 mil pessoas vestidas em branco marchavam pela cidade de Santa Maria. Não havia sorrisos, nem risadas, nem brilho nos olhos de ninguém. Aos milhares, cruzamos a densa névoa de dor que pairava sobre a cidade. Lentamente, passo a passo, a maior e mais triste multidão que Santa Maria já viu lembrava o roubo de 234 de suas almas. Àqueles que ficam, a constatação de que a morte não é seletiva – ela não é previsível, mas sempre impiedosa.

Flores em mão, fotos das vítimas, aplausos, orações e uma indagação geral implícita: como isso poderia ter acontecido aqui, conosco, em circunstâncias tão triviais como sair para se divertir? A iminência da morte parece ser a mais forte das ligas.

Uma ambulância quebrou o silêncio e, enquanto era aplaudida, nossos olhos seguiam mais uma das vítimas da fumaça. O luto não podia procurar um fim, a dor ainda não acabara – nem para os inúmeros voluntários que ajudaram como podiam, nem para os bombeiros, enfermeiros e socorristas de cujas mentes imagens de horror nunca se descolarão. A dor tampouco acabou para as famílias, para sempre mancas.

A morte abrupta traz o fardo de ter que seguir vivendo. Todos nós esperamos que, dia a dia, o desastre se torne menos e menos doloroso, mas nossas memórias ancorarão nossa única certeza por agora: nós, santa-marienses, nunca mais seremos os mesmos.

Foto: Tiago Miotto.

UMA LEGIÃO SILENCIOSA, pelo viés da redação

Um comentário sobre “UMA LEGIÃO SILENCIOSA

  1. É triste ver jovens chorarem a perda de outros jovens. Até quando no Brasil muitos devem morrer para as leis serem colocadas em prática? Até quando o dinheiro continuará falando mais alto? Até quando…

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