[EDITORIAL] AGORA É GREVE

O movimento grevista nunca visa prejudicar a população que carece dos serviços que a categoria paralisada normalmente presta a ela. Ainda assim, é muito comum encontrar pessoas que se colocam veementemente contra a greve, por entenderem que serão prejudicados pelo movimento grevista.

Uma pauta do movimento de greve nunca está desligada de um contexto global – as pautas dos docentes das 52 instituições federais de ensino paralisadas até o momento da redação deste texto estão relacionadas entre a categoria de todas as instituições, além dos alunos, técnicos e sociedade civil em geral.

A opção pelo movimento de greve não provem da intenção de prejudicar alunos, colegas professores e comunidade. Ela vem do esgotamento das possibilidades de negociação, quando tanto o executivo quanto as instâncias trabalhistas de negociação nos ministérios e secretarias não oferecem mais recursos de decisão conjunta e satisfatória. O erro está em considerar a greve como a principal inimiga de estudantes e trabalhadores. A pressão, que acaba recaindo sobre a população, é fruto da opressão do patrão, do governo, neste caso, em não querer ou não respeitar a negociação com a categoria docente. Os exemplos das greves de tantas outras categorias espalhadas e mobilizadas por este país, reforçam a tese de que, apesar dos conflitos de interesses individuais, a paralisação provém de uma necessidade comum, de uma categoria e de todo o conjunto de trabalhadores, em melhorar as condições de trabalho – consequentemente, de vida em sociedade.

Sendo assim, o movimento navega na necessidade de paralisar, visando a pressão naquele que não o respeita enquanto categoria. Isso se reflete nos trabalhadores e estudantes que carecem dos serviços, sim. Mas negar o movimento grevista por entender que tais serviços paralisados prejudicarão o trabalhador apenas por prejudicar fragmenta ainda mais uma luta que precisa ser coletivizada.

Existe ainda outro argumento que costuma questionar a greve de docentes do ensino superior e de uma diversidade de categorias, geralmente de servidores públicos, à medida que os movimentos avançam e a deflagração da luta se torna inevitável: o de que os professores já ganham bem, ou, pelo menos, melhor do que a grande maioria do povo brasileiro, e portanto a greve não se justifica. Este tipo de questionamento não tem outra função senão colocar trabalhadores contra trabalhadores, confundido e fragmentando a classe que vive de trabalhar e desviando o verdadeiro foco da questão, que é a exploração do trabalho, independentemente dos níveis em que se dê e das particularidades que apresente.

O problema não é que existam categorias organizadas demais para reclamar por seus direitos e reivindicar suas pautas. O problema é justamente o contrário, que essa organização não seja – ainda – capaz de suscitar a identificação e a unidade entre todos os trabalhadores.

A greve de uma categoria que pauta questões estruturais para a nossa sociedade – como é a questão do modelo de educação e de universidade que queremos – e se identifica com a classe trabalhadora não deveria ser objeto de hostilidade por parte daqueles que ganham menos, mas sim um exemplo de organização e uma motivação para que o espírito da luta se sobreponha à resignação pela ordem. Tampouco deveria ser questionada por aqueles que, ainda estudantes, sentem-se prejudicados em sua avidez por ingressar em um mercado de trabalho idealizado, sem perceber que essa avidez é também a de entrar em um ciclo de precarização e exploração, algo que nos é omitido pela cultura do “cada um por si” e pela mitologia do empreendedorismo, da qual poucos conseguem, realmente, tirar algum proveito que não a ilusão da auto-suficiência. Prova de que todas as categorias podem estar unidas em prol de melhorias na educação é a recente aprovação de greve estudantil na UFSM.

A pressão e o estresse sofrido pelos professores em sua carreira docente nas universidades recaem diretamente sobre os alunos. As péssimas condições de trabalho, a precarização do mesmo, a falta de investimento e atenção, a má remuneração, o descaso, o produtivismo acadêmico que acaba dilapidando a ciência – todos esses fatores, que afetam e que insurgem no movimento grevista – atingem também estudantes e comunidade. Enquanto não entendermos que as reivindicações são legítimas e que apenas a coesão da sociedade é capaz de realmente pressionar o governo, continuaremos lidando com situações fragmentadas e com reclamações individualistas.

Aos leitores desejamos boas leituras.

[EDITORIAL] AGORA É GREVE, pelo viés da Redação

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