[EDITORIAL TRANÇARUA – PORTO ALEGRE]

Foto: Calvin Furtado/TrançaRua

Porto Alegre respira revolução. Revolução tem cheiro de pólvora e gás lacrimogênio, ruas vazias, lixo queimando e estrepitosos ruídos. É realmente prazeroso caminhar pelas ruas e ver que o dinheiro surrupiado por juros e toda uma política econômica exploratória está estilhaçado no chão como os cacos de vidro das fachadas das agências bancárias.

A revolução vem com muito pixo jorrados da boca de sprays. Jorrado das nossas bocas nas paredes, nas vidraças, nas bancas de revista com banners da Copa do Mundo do Brasil, nos contêineres e nos fatídicos ônibus que operam o transporte coletivo municipal. A revolução traz a reboque a expressão. Lembra que a juventude emudeceu, mas não desaprendeu a falar. Mesmo as tímidas vozes silenciadas nas letras dos milhares de cartazes cuidadosamente preparados.

A revolução é entoada por todos, uníssona, brada a indignação de anos de um sistema político que sustenta o patrimônio de uma minoria rica para segregar, explorar e criminalizar uma maioria pobre. A sensação de entoar os hinos é uma mistura de lágrima e grito de gol. O país do futebol parou para gritar gol. O gol de Porto Alegre, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e de Brasília é a revolução. As ruas das cidades são os estádios da revolução.

A revolução coleciona fotógrafos de guerra que garantem audiência nos dias seguintes. Enquanto os meios de comunicação de massa contabilizam prisões e depredações para criminalizar o levante popular, nossas milhares de timelines estão como nunca estiveram, como sempre esperamos que estivessem. Floridas, com milhares de gentes jovens reunidas e suas barbas e cabelos ao vento. Caminhando, com seus lenços, seus documentos, sua identidade e autonomia para ir e vir e protestar.  A revolução não será televisionada, mas talvez tenha uma fanpage.

O que se chama revolução, na verdade, é apenas uma página escrita do manifesto necessário para reestruturar o social. Um texto que dorme inconcluso. A revolução está embebida no vinagre, mas é autêntica, incomoda, força os reacionários a pensar e, em alguns casos, a se somar às manifestações para tentarem desvirar contêineres ou aplaudir a repressão policial. Militante, nunca esqueça: depois da fumaça, vão-se os cavalos – os da polícia e aqueles que relincham os ecos do senso-comum.

A diferença das operações da polícia é o corporativismo. Cada soldado preza pela vida do seu companheiro, e o companheiro zela por quem o preza. Não tente comovê-los com a frase “policial o teu filho também paga passagem”. O BOE é jovem e com sangue nos olhos. É treinado pra guerra. Militante: cuide daquele que caminha ao seu lado. A revolução é amor.

Segunda-feira, 17 de junho de 2013,  hackeamos a mídia reacionária. Invadimos o Congresso Nacional. Experimentamos a guerra civil no Rio de Janeiro. Há semanas a violência da polícia era noticiada em São Paulo. O amanhã será sempre um prato cheio. E já se sabe o endereço da Bastilha: fica na Avenida Ipiranga.

[EDITORIAL TRANÇARUA – PORTO ALEGRE], pelo viés do colaborador Calvin Furtado*

*Calvin é jornalista e faz parte do TrançaRua

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