[DCE UNIFRA] “Qual é a primeira pessoa que fala sempre no plural? Somos nós"

Chapa
Chapa “Primeira do Plural”/reprodução.

O Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) é uma das mais importantes universidades particulares da região. Recentemente, estudantes da instituição se mobilizaram em prol de eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Durante um mês, a chapa Primeira do Plural organizou atividades e reuniu cerca de 27 integrantes para compor uma futura gestão. O trabalho deu certo e a Primeira do Plural foi eleita pelos estudantes com mais de 60% dos votos, para ocupar um mandato de um ano.
A revista o Viés conversou com alguns integrantes da nova gestão. Em reunião, os novos representantes debateram sobre movimento estudantil, demandas da UNIFRA e espaços para a juventude em Santa Maria. Estavam presentes os integrantes: Gabriella Cargnelutti, Natália Ferraz Mello, Eduarda Toscani Gindri (Duda), Daniel de Moura Pinto, Pedro Lenz Piegas, Daniel Pinheiro e Ivan Leão.
logo revista o Viés: A campanha da chapa para as eleições do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do Centro Universitário Franciscano (Unifra) foi bem grande e teve bastante visibilidade. A gestão de vocês, agora, é uma gestão de continuidade em relação à chapa anterior?  Por que o nome “Primeira da Plural”? Qual a avaliação que fazem do processo?
Ivan: Em relação à nova organização que o DCE tem. Bom, mudou a questão de como o DCE se organiza. Antes se organizava como uma chapa presidencialista que era composta por 6 membros – presidente, vice-presidente, secretários e o pessoal das finanças e suplentes. Houve votação do Estatuto no início do semestre e mudou essa formação. Hoje a formatação é com coordenações, ela é horizontal, é organizada através de coordenadores gerais, coordenadores de finanças, depois várias coordenadorias, tais como de esportes, cultura, movimentos sociais, opressões. E a nossa chapa conseguiu reunir 27 pessoas, o que é inovador, pois nunca passou de tanta gente assim dentro de uma chapa, sem contar o número de apoiadores que também foi bem grande.
A visibilidade que a gente conseguiu dar foi porque conseguimos integrar o pessoal de vários cursos. Toda a nossa campanha foi feita com o potencial que a gente tinha, potencial acadêmico. Pessoal da publicidade administrando página no Facebook, fazendo a arte, fazendo a parte gráfica. Pessoal da comunicação social tentando relacionar, elaborando os textos e criando eventos nos quais os estudantes pudessem nos ver.  Quando conseguimos fazer um evento no pátio do prédio 13, do conjunto 3 da UNIFRA, confeccionando camisetas com parceiros, faixas, o pessoal  pôde visualizar. Nem tanta gente chega ali, porque ainda tem essa questão em que na UNIFRA geralmente o espaço é ocupado não para realizar algo desse tipo. Alguns cursos ocupam, por exemplo, o Jornalismo e a Arquitetura, mas é algo muito mais acadêmico, então o pessoal não chega naquela intenção de integração estudantil, de movimento estudantil, é algo que ainda temos que fortalecer bastante aqui dentro.
Duda: A nossa chapa começou numa reunião, entre amigos, um chamando o outro. Já vínhamos conversando da vontade em montar uma chapa pro DCE, de reunir. Aí o Guilherme Pittaluga, que era o antigo presidente do DCE, também nos ajudou a juntar as pessoas, trazer contatos e aí acabamos fazendo reuniões, pensando a chapa. Com as eleições, montamos a chapa, oficializamos e entramos para a gestão.
Ivan: Nossa chapa não se entendia como situação. Apenas no sentido de tentar dar continuidade ao fortalecimento do DCE com um viés que ele já tinha – que era o viés de aproximar a universidade da comunidade e tentar trazer a comunidade para cá. Em questão ideológica, de posicionamento político, a nossa chapa continua a mesma. É um posicionamento de esquerda, dá pra dizer assim, que vai tentar agregar mais poder em relação ao movimento estudantil, no sentido de ir à rua, ocupar espaço público, conversar com a comunidade, com coletivos, essa é a ideia.
Duda: É uma continuidade de pensamento, mas não é uma reeleição da chapa que existia antes. É uma chapa completamente nova.
Ivan: Na nossa nominata não tem ninguém que seja da chapa anterior.
 
logo  A maioria do pessoal da gestão faz tempo que já está na faculdade ou entrou há pouco? Como é?
Daniel Pinto: A maioria está numa média, entre o 4° a 6° semestres.
 
logo  Qual a relação que vocês têm com as gestões anteriores do DCE? Como viam a questão do Diretório? Acham que na UNIFRA o pessoal tem esse envolvimento? Como vocês veem esse movimento?
Duda: Falta incentivo para o pessoal se envolver.  A própria questão de ter uma chapa presidencialista, de poucas pessoas, acabava criando uma hierarquia – quem tava no topo seguia, porque tinha poder sobre aquilo, porque tocava as coisas, mas quem estava na base acabava soltando, e no final tu não tinha um Diretório, mas algumas pessoas tentando trabalhar. Com uma amplitude maior de pessoas, com essa organização diferente, a gente vai conseguir alcançar mais alunos, trazer mais alunos para integrar o Diretório. Dá para criar uma permeabilidade maior entre gestão e alunos. Ate então sempre foi  (não dá para dizer “fraco”, porque houve conquistas) pouco expressivo, falta o caráter cultural, o caráter social enquanto movimento estudantil.
Ivan: Por questões de características da UNIFRA como instituição privada, achamos que o movimento estudantil é um pouco desvinculado do movimento estudantil que não faça só uma relação de intermédio entre aluno e UNIFRA, como relação de consumo. O pessoal às vezes procura o DCE da UNIFRA como sendo um organizador de festa, ou para pleitear a redução do valor da matrícula ou da mensalidade. E a gente quer fazer algo bem diferente, quer agregar mais pessoas ao movimento estudantil da UNIFRA e dar uma identidade própria a ele, trazer o pessoal de vários cursos, dar uma multidisciplinaridade, como a gente já conseguiu fazer. Trazer gente da comunicação pra trabalhar junto com o DCE, pessoal da publicidade pra trabalhar junto, gerirmos em parceria. A questão do nome, Primeira do Plural, porque a gente tenta agregar a questão da diversidade, tanto diversidade de gênero, cultural, de posicionamento político, quanto a diversidade de gente para trabalhar, de conhecimento. A gente conseguir agregar o conhecimento que a UNIFRA tem, dos alunos, da formação, e trazer isso em prol do movimento estudantil, fortalecendo. Algo que pleiteie muito mais o aluno em relação à sociedade, em relação à reitoria, não como uma relação de aluno e uma empresa que fornece educação.
Duda: O nome saiu de uma conversa. Discutíamos ideias de nome, e o pessoal já tinha montado a ideia de escrever o “nós”, o que unisse. Falando “nós”, pensamos “ah, primeira pessoa do plural, qual é a primeira pessoa que fala sempre no plural?” – Somos nós. Somos a primeira do plural, aideia de trazer a união, o nós, o nosso, e ao mesmo tempo a pluralidade, diversas vozes, não é só um que fala, são vários que falam. Tentando fazer com que diversas vozes sejam ouvidas dentro da instituição.
 
logo Nesse sentido, quais são as principais dificuldades que vocês encontram para tentar agregar pessoas, levando em consideração de ser uma universidade privada. E quais são os principais desafios que vocês vislumbram?
Ivan: Vimos que na UNIFRA não existe uma cultura de interdisciplinaridade de cursos, é uma questão muito fechada de as pessoas geralmente conhecerem só as do seu curso, algumas vezes até sem relação bixo-veterano. Tu estás no 5° semestre e já não conhece quem está no 1°, porque aqui é um ambiente de passagem, diferentemente da UFSM onde, por exemplo, tu deixas um pouco de vínculo com a instituição. Aqui, o ambiente é de passagem – o aluno vem, faz o curso, e vai embora. Assim como as pessoas muitas vezes vem para aula e vão embora, também não tem um local de integração. Essa é uma das dificuldades, de espalhar até pelo boca-a-boca que está acontecendo uma eleição. Teve quem não sabia da eleição, que às vezes perguntava “ah, o que eu vou ganhar se eu votar em vocês?”, por exemplo, por não compreender o porquê de um DCE, que não é só pra pleitear o preço da matrícula, que é algo muito mais interessante, que são questões políticas, questões de discussão, espaços para debater. Até de representar o estudante perante a sociedade.
Duda: Percebo muito a própria questão da relação de consumo – entrar, consumir a aula e sair da universidade. Não permite que aqui dentro se crie um ambiente de vida universitária, de desafios, fomento de conhecimento. Até pelo próprio perfil do aluno da UNIFRA, que é de quem tem que trabalhar, muitas vezes, para pagar a mensalidade. Conseguir que o aluno fique na instituição para participar de outros eventos, de debate, fomentar aqui dentro também um espaço de sociabilidade. O DCE pode fazer parte construindo esse momento junto com os alunos, fazendo com que esse momento seja mais rico pra eles.
 
logo  Vimos que uma das propostas de vocês tem a ver com a eleição de coordenadores ou colegiados nos cursos. Como vocês veem isso? A participação dos estudantes na construção de currículos?
Duda: Essa proposta veio a partir do exemplo da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Vemos que é muito importante, porque os coordenadores não têm diálogo com os alunos, nem diálogo com os professores, e é uma autoridade, uma ponte que representa, de certa forma, aquele curso perante a instituição. Seria importante que os estudantes tivessem participação nisso. Não é porque a universidade é privada que o estudante não pode ter participação dentro das decisões que constroem o próprio curso que ele cursa e que, de certa forma, ele também paga, ele fomenta diretamente a existência daquele curso. Seria necessário que ele, enquanto agente desse curso, também pudesse contribuir para a eleição do coordenador, para trabalhar e discutir essa escolha, para discutir o currículo. Às vezes, muitos de nós temos questões para colocar frente aos currículos, e não é dada abertura para conseguirmos chegar à mudança que se espera.
Ivan: Muitas vezes, o estudante sozinho não consegue chegar com aquilo que ele pretende ou com a intenção que ele tem frente à coordenação ou frente à reitoria. Ele precisa de alguma entidade, digamos assim, que represente os anseios dele. Na UNIFRA, o  DCE já vem pautando, há muito tempo, mas com muito sacrifício. Não tem esse poder de chegar frente ao reitor ou frente a um coordenador e pleitear. Achamos que, tentando eleger, vamos ter uma possibilidade, ao menos, de escolha, de quem vai representar o curso, fazendo o intermédio entre professor e aluno.
Duda: É uma possibilidade de debate também, não é uma coisa imposta sobre a gente, é uma possibilidade que tu tem de pleitear uma coisa diferente daquilo que te é imposto.
 
logo  Pelo menos discutir com a coordenação…
Duda e Ivan: Sim.
Ivan: Ouvir o aluno e as demandas de cada curso. Há cursos com demandas estruturais, demanda de professor, de reclamações. Não tem para quem recorrer, ai recorre ao DCE. Mas  o DCE, como ele é visto por poucos alunos, muitas vezes, não tem aquele poder de movimento estudantil. Queremos acrescentar isso. Por exemplo, a gente vê na UNIFRA claramente uma espécie de segregação que existe entre alguns cursos, cursos que têm mais carga horária, que pagam mais, têm tratamento diferenciado daqueles cursos que pagam menos, têm menos carga horária ou têm alguns descontos dados também.
 
logo  Tratamento diferenciado em que sentido?
Ivan: Em relação à infraestrutura. Se tu fores ao conjunto 3, o laboratório dos prédios da Odontologia, do Direito, dos cursos que têm uma carga horária maior, têm uma aparelhagem melhor do que dos os cursos do outro conjunto, que é um conjunto mais antigo.
 
logo  São mais assistidos que os outros?
Ivan: Sim.
Duda: A Engenharia não tem bar no prédio, por exemplo.
Ivan: Há coisas que a UNIFRA poderia ganhar também, oferecendo um suporte maior e receber um retorno bom, como, por exemplo, dar um espaço para um bar no curso da Engenharia que hoje não tem, porque são poucos alunos. Tem cursos que são mais procurados, tem uma estrutura diferenciada.
Duda: A própria estrutura da sala de aula é diferente.
Ivan: Por exemplo, lá nos outros conjuntos, os professores têm de levar data show para a sala de aula. Não que outros prédios tenham condições deploráveis.Não. A condição é ótima perto de muitas instituições, mesmo públicas, mas existe uma questão de que dentro é diferenciado. Queremos levar isso para o debate e dialoga. Para fazermos isso, precisamos do apoio dos estudantes.
 
logo Durante o processo de eleição, vocês notaram uma aproximação maior por parte do estudante? Já notaram se vai ter um suporte para realizarem a transformação que  querem?
Duda: Sim, acho que o processo de eleição foi muito positivo para agregar, dar a visibilidade de que existe o DCE, de que existem pessoas que querem trabalhar para ele. E foi muito interessante, porque desde o início da campanha a gente abriu um canal de comunicação com os estudantes. No decorrer da campanha recebemos muitas ideias e propostas. Tivemos reuniões com pessoas que estavam formando um DA e já apresentaram os problemas dos curso deles. Foi muito bom, pois vimos demandas que não enxergávamos, que eram específicas dos cursos, e já se criou um vínculo.
Ivan: Teve gente procurando apoio para formação de DA’s, porque na UNIFRA tem muitos cursos, mas Diretórios Acadêmicos são poucos. São 32 cursos de graduação e 10 diretórios. O DA que a gente vê na UNIFRA tem todo um esforço, tem um trabalho muito merecido, muito reconhecido deles, mas que é muito mais para fornecer, muitas vezes, evento para proporcionar horas de ACG (que o aluno precisa para se formar) do que para realmente ter um debate sobre algum tema. Pensamos que criando mais DA’s, ajudando a criar, ou tentando incentivar a criação, podemos fortalecer a discussão na UNIFRA.
 
logo  E com os DA’s que já existem também abrir o canal?
Ivan: Sim, com certeza. Estamos tentando realizar reuniões para integrá-los e para ter um auxílio para conversar com outros cursos que não têm [DA]. Há cursos que não possuem DA, até porque tem cursos em que o total é de 30 alunos, entende?
 
logo de certa forma, um dos principais trabalhos de vocês vai ser fomentar uma espécie de cultura política aqui na UNIFRA?
Ivan: É a nossa preocupação.
 
logo Na UNIFRA há bolsistas, vários cursos noturnos, e a questão de financiamento. Muitos estudantes que são trabalhadores também e pagam o curso. Vocês notaram, durante a campanha, demandas específicas dessa parcela de estudantes? Se tem algo que é particularidade ou tem que dar mais atenção…
Ivan: Eu sou bolsista PROUNI, e tem mais gente da nossa chapa que é, além dos bolsistas que são de uma ajuda filantrópica que a UNIFRA oferece, que é 50% ou 100% de desconto. Tentamos levantar como proposta da nossa campanha, tentar pleitear junto à UNIFRA um apoio aos alunos que são bolsistas, porque mesmo tendo a bolsa, muitas vezes as taxas não são isentas. Tem que pagar taxa de prova atrasada, taxa para emitir o certificado de matrícula, até existia taxa para emitir o comprovante de matricula, que as gestões anteriores conseguiram anular. Mas é uma realidade da UNIFRA a do aluno que trabalha para pagar o curso e precisa de bolsa, ou do aluno que para poder estudar tem que ter uma bolsa, porque não tem como trabalhar para pagar o curso. E essa demanda é uma conversa difícil de ter com a UNIFRA, porque envolve dinheiro,obviamente. A bolsa PROUNI, por exemplo, é estipulada pelo Ministério da Educação (MEC). Na portaria do MEC eles falam que ela não isenta ninguém de pagar os custos que a UNIFRA tem, custos administrativos como, por exemplo, prova atrasada e ajuste de carga horária. Mas vamos tentar pleitear junto a UNIFRA pelo menos algo que possibilite o parcelamento dos valores, talvez. Por exemplo, esse semestre eu tive que ajustar minha grade curricular para incluir duas disciplinas e eu tive que pagar 300 reais, e esses 300 reais tem que ser pago à vista, porque a UNIFRA não parcela, e como eu não pago mensalidade, eles não podem emitir boleto pra mim. Então, pra uma pessoa que tem renda familiar baixa pra conseguir a bolsa, pagar 300 reais a vista é um preço alto.
Para uma pessoa que tem renda familiar baixa para conseguir a bolsa, pagar 300 reais à vista é um preço alto. Tentaremos negociar com a Unifra pelo menos o parcelamento desse valor. Tentar algo que possibilite ao aluno se manter e usufruir das possibilidades que ele tem – como prova atrasada ou de outra coisa que vá auxiliar ele na grade curricular – mas que ele tem que pagar.
Duda: Também temos que buscar transparência quanto às taxas, porque, como estávamos discutindo em relação à taxa da prova atrasada, ela já foi R$ 30 e agora está R$ 80. Não se tem conhecimento do quanto desse valor vai para o professor. Sabemos que não é um valor alto – os próprios professores dizem que recebem uma “merreca” por aplicação de prova atrasada – e eles têm o trabalho de fazer e corrigir uma prova nova. Então é necessário buscar transparência.
E outra questão sobre essas taxas é que a gente precisa buscar alternativas para dialogar sobre essa questão, o que não é fácil. Sabe-se que, historicamente, o DCE tem um problema para dialogar sobre isso. É difícil conseguir uma mudança. Acho que a ideia é ter alternativas como o parcelamento.
Ivan: Outra questão que esquecemos de falar sobre o tratamento diferenciado, tem  relação com o que fizeram com a pesquisa, muitas vezes. A Unifra tem um processo de pesquisa, tem o salão de iniciação científica, o SEPE – Simpósio de Ensino, Pesquisa e Extensão. São eventos bons, que agora aumentaram o preço. Foram para R$ 100 – sendo que antes era R$ 40 – e a gente não sabe muito bem por que aumentou o preço. A Unifra prioriza as pesquisas do pessoal que faz Engenharia, ou do pessoal da Biomedicina, dos cursos das profissões que são entendidas como ‘ciência’. Um aluno do Direito, por exemplos, que queira fazer pesquisa, não terá as mesmas oportunidades que eles. A Unifra auxilia muito pouco os alunos que têm que viajar para apresentar trabalho em outros lugares, ele tem que pleitear aquilo. Mesmo o aluno sendo bolsista ou não, tendo condições de viajar ou não, cremos que o aluno está carregando o nome da Unifra, levando a imagem da instituição para fora. Só que ele está fazendo isso com os próprios meios, tendo que arcar com os próprios custos de inscrição no evento. Por exemplo, o SEPE da Unifra, que é um evento de pesquisa, cobra até que o aluno PROBIC pague a inscrição para poder apresentar no evento, sendo que em várias instituições o aluno PROBIC não paga. O evento agora custa R$ 100, então o aluno PROBIC tem que tirar 2/3 da bolsa de um mês só para pagar só a inscrição do evento. Sem contar que a Unifra não vai contribuir, não vai ajudar – ou vai ajudar com muita dificuldade – o aluno que tem que publicar em outra cidade, ou levar o nome da Unifra para outro congresso.
Duda: Sobre a questão da assistência estudantil, outra pauta que levantamos é a de que em alguns editais da instituição, nos editais de bolsa de monitoria, eles proíbem que o aluno bolsista concorra, porque a Unifra teria que desembolsar o valor da bolsa, não teria como descontar da matrícula. É uma clara discriminação entre as duas categorias de aluno.
Ivan: Quando eu era bolsista PROBIC, por exemplo, tendo bolsa integral [de mensalidade], a Unifra não tinha como me dar desconto mensal sobre o valor que eu teria que pagar, então ela desembolsava esse valor do caixa. Só que, enquanto que para a bolsa PROBIC eles geralmente desembolsam o valor, para as bolsas de monitoria não.
Duda: É, depende do fomentador da bolsa. Varia também de curso para curso. Tem muitos alunos PROBIC que concorrem aos editais.
Ivan: O que mais dificulta é em relação à transparência na escolha dos monitores como, por exemplo, existe o aluno que paga e então aquele aluno tem o desconto do valor [de mensalidade], então a Unifra não tem que desembolsar. Em relação à bolsa PROBIC, há uma questão mais ampla: ocorre uma priorização dos cursos de ciências – daquela ideia da ciência do tubo de ensaio – e não da ciência social.
 
logo  E para conseguir pleitear transparência aqui dentro vocês precisam juntar um corpo considerável de pessoas…
Duda: Tivemos uma abertura bem boa na primeira recepção da reitoria. Foi bem interessante, acontece um diálogo, a reitora veio na nossa posse, falou com todos, mostrou-se bem aberta. Se toda a reitoria se guiar pelo discurso dela, a gente tem muito a ganhar.
Ivan: A gente vai tentar sempre buscar um diálogo. Começamos agora, pegamos o final de semestre e não deu para fazer nada em relação a algo que fosse público. Mas vamos pleitear para o segundo semestre, até para julho, uma campanha do agasalho, uma Semana da Calourada. Mas a gente ainda não chegou a conversar com a instituição sobre as questões que levantamos, sobre as propostas que expusemos durante a campanha, mas a gente vai buscar sempre o diálogo. A abertura é bem grande, mas mesmo assim precisamos da força do movimento estudantil para nos empurrar, apoiar, e para realmente representemos o máximo de alunos possível.
A gente parte do pressuposto que a Unifra tem demanda estudantil, e não tem a demanda de infraestrutura. [Com a nossa gestão] não só os estudantes da Unifra ganham, mas a sociedade em si. Conseguindo fomentar o debate sobre vários temas aqui dentro com os estudantes e professores – e a Unifra fornecendo esse espaço -, estaremos formando pessoas mais capacitadas, com um viés mais cidadão, e não simplesmente um profissional com um diploma na mão. Não vai ser aquele diploma concedido ao aluno apenas para seu crescimento profissional nessa ou naquela área, e sim uma formação social, de pensamento, com fomentação de crescimento intelectual.
 
logo  Vocês fomentarão eleições, para que o pessoal se puxe a manter um DCE?
Ivan: Na época de campanha, falávamos e continuamos levantando a bandeira de que um dos nossos objetivos é que nas próximas eleições sejam três, quatro chapas concorrendo. Nessa eleição, foram apenas duas chapas, no início era apenas uma. Quando mais gente puder disputar, mais gente puder dialogar, melhor. Quando mais divergência, mais diversidade, mais debate será gerado, e isso pode trazer algo que a Unifra não consegue dar, muitas vezes, em sala de aula. O movimento estudantil na Unifra era limitado aos estudantes dentro da sala de aula. A gente quer trazer para o pátio, pro corredor, conseguir levar pra rua, trazer um pouco da comunidade para cá…
 
logo  Lemos na lista de propostas de vocês sobre a ideia de aproximar mais a universidade e a comunidade. Gostaríamos de saber mais sobre o que vocês têm de idéias nesse sentido.
Ivan: A Unifra tem um papel muito forte de usar a formação acadêmica em prol da sociedade, no sentido de assistência. Por exemplo, a Odontologia tem serviço de assistência odontológica de baixo custo. Vários setores da sociedade vêm se tratar aqui, assim como vários estudantes. Também tem um núcleo jurídico bem forte, na Silva Jardim, que tem advogados de causa cível, PROCON e toda a estrutura para que isso ocorra. Tem também a Fisioterapia.
Natália: Toda a área da ciência da saúde presta algum cuidado a baixo custo. Tem o laboratório da Nutrição, da Enfermagem, da Fisioterapia, da Odonto. Todos eles prestam assistência para a população com baixo custo.
 
logo  O curso de medicina vai ter que estagiar no SUS também…
Natália: Sim. Os cursos de saúde são bem direcionados para o Sistema Único de Saúde. A Unifra acaba contribuindo para a comunidade nesse sentido.
Ivan: A intenção de trazer a comunidade para dentro é trazer a “cara da cidade”. Muitas vezes, o aluno da Odonto ou o aluno do Direito trabalha, mas ele vem de uma classe social que tem um abismo enorme com aquela pessoa que ele atende. A gente quer trazer essas pessoas para dentro da Unifra, mostrar quem são.
Natália: Cremos que é muito importante, além de trazer as pessoas para a nossa clínica, irmos até as comunidades. Temos estágios no Sistema Único de Saúde, em atenção básica, mas precisamos promover mais eventos não só direcionados à saúde, mas à cidadania da população. Esse é um ponto em que sentimos uma grande carência.
 
logo  Em relação ao movimento estudantil, gostaríamos de saber se vocês buscam exemplos em outras organizações de universidades privadas, quais são as referências de vocês?
Ivan: Movimentos estudantis que atuam há muito tempo. Na própria UFSM, há um DCE forte, que tá na rua, e vários coletivos que saem lá de dentro. Tem uma questão muito forte do pessoal universitário da UFSM – sendo do DCE ou não – que é a de construir coletivos, como a Marcha das Vadias, o Coletivo Voe!. Mas tem instituições privadas, como a PUC, que tem Diretórios Acadêmicos que existem há muito mais tempo e que têm um grande apoio da instituição para fomentar o debate dos estudantes dentro da instituição. Na Unifra ainda é bem insipiente, vem crescendo, e eu acho que essa mudança de organização – de trazer mais gente para a chapa e para próximo do DCE – será marcante para a instituição. Então nos inspiramos nisso: nos DCE’s que estão sempre na rua, botando a cara para bater, levantando bandeiras, que realmente vão à luta. Por exemplo, quando falamos em diversidade, – geralmente falamos em diversidade de gênero – abordamos temas que a Unifra não dá espaço para debater:  redução de danos, drogas, aborto, criminalidade… Tudo fica muito fechado na sala de aula e muito limitado àquele ambiente. Queremos que se pense sobre algo que acontece no mundo fora do ambiente acadêmico, mas que muitas vezes não se vê, como o próprio feminismo, que é pouco abordado aqui. Sabemos que temos professores que militam, que têm um trabalho sobre isso, mas é algo que, como não está bem articulado, não é discutido. A gente quer trazer isso para a Unifra.
Natália: É, tirar o aluno da Unifra de dentro da Unifra, desvendar o resto do mundo. Muitas vezes tem gente que trabalha, que acaba só vindo à aula e indo embora. Então trazer o aluno para o debate, para o debate da sociedade, não deixar ele restrito à universidade.
 
logo Sobre a relação de vocês com os movimentos sociais, percebemos pela campanha que está se consolidando. Vocês falaram muito na questão da diversidade. Essa articulação está programada?
Ivan: Sim, pretendemos apoiar os movimentos sociais. Não chegaremos lá querendo ser protagonistas, mas sim alguém para dar força. Por exemplo, sabemos que o Bloco de Lutas de Santa Maria dialoga com a sociedade e busca suporte e apoio. Estamos prontos para apoiar quem nos receber bem, e procuraremos receber bem todo mundo. Essa questão de movimentos sociais nos é bem importante. Não é só questão política, é questão de dialogar com a sociedade em si, de poder usar o espaço de ensino e de educação para conhecer a sociedade. Vivemos uma crise educacional muito grande – não só na Unifra, mas no Brasil inteiro – gerada por uma educação mercadológica. E nós tentaremos, dentro de uma instituição privada, tornar isso diferente. É algo que é um desafio, mas queremos mostrar que a educação é muito mais que um diploma, é formação política, social, cidadã.
Duda: Creio que o primeiro passo que daremos na Unifra é a Semana da Calourada, na primeira semana do próximo semestre. Procuraremos ser críticos, diferentes do mainstream, do senso comum que superficializa tudo, e trazer leituras diferentes dessa realidade, para que o pessoal que está entrando já tenha uma idéia diferente, para que já dê aquela inspiração. De repente, o pessoal pode começar o primeiro semestre já buscando alguma coisa diferente dentro do seu curso.
 
logo  Vocês estão trabalhando agora para organizar essa semana? Quando acontece?
Duda: De 4 a 8 de agosto.
 
logo  A festa que teve do DCE foi feita por vocês?
Duda: Mais ou menos…
Ivan: A festa foi organizada na verdade por uma produtora [um professor que é de uma produtora]. Como a gestão anterior tinha menos gente para conseguir organizar um evento, tratou com ele de fazer algo “para estudantes”, e que levasse o nome do DCE. Essa festa foi tratada antes de assumirmos.
Duda: Nem tínhamos assumido e largaram a bomba no nosso colo três dias antes.
Ivan: É, deu certo. Poderia ter dado muito mais errado. [Risos]
 
logo  Perguntamos porque, por mais que seja uma festa, não deixa de ser uma questão importante. Geralmente estudante é juventude, e essa é uma carência da cidade.
Ivan: É, estávamos puxando isso na reunião anterior, é algo que a gente vai discutir bastante ainda. Mas, com certeza, a festa é um movimento cultural também. Temos que fazer algo que seja um evento cultural, feita por e para estudantes, algo que tenha a nossa cara. Não sei se a gente vai ter gás e pessoal para fazer algo grande…
Duda: Pensamos em começar por coisas menores, como um sarau, algo mais assim.
Ivan: É questão de reunir mesmo a galera, não de fomentar lucro e caixa. Porque queremos continuar fazendo algo que seja autossustentável, que a grana que entre seja para as atividades do evento. Que o pessoal possa pagar para o evento, mas que aquilo seja mais cultural.
Duda: Trabalhamos com apoio cultural. Por exemplo, a parte de bebida foi toda para o clube e para o produtor. A lucratividade não era nosso objetivo. Nós só trabalhamos fomentando o acesso. Mas queremos fazer alguma coisa mais organizada e mais legal.
Ivan: E tentar algum ambiente que seja mais cara de movimento estudantil, onde possamos ter nossa identidade preservada. Mas é uma ideia para se pensar, até porque é uma demanda.logo 
 
[Entrevista DCE UNIFRA] “Qual é a primeira pessoa que fala sempre no plural? Somos nós”, pelo viés de Tiago Miotto e Nathália Costa (Panka)

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