A FITA BRANCA

a maldade é inata aos seres humanos?

parece uma frase de impacto. mas toda a vez em que ligamos a TV, abrimos as páginas sangrentas dos jornais, ou escutamos atentos aos lamentos do rádio, o que me parece ao certo é que toda a humanidade está condenada a viver nos escombros de sua própria desumanidade.

por mais que a civilização nos ‘acomode’ aos bons costumes, ou por mais que os naturalistas defendam a contínua ideia do ‘bom selvagem’, o que não escapa do diagnóstico que a raça humana recebe há séculos é sempre o mesmo fator – a maldade é inerente aos seres, ao mesmo passo em que a bondade.

parece a alguns que o crime, a mentira, a calúnia, a inveja, a difamação, a barbárie, a crueldade e a luxúria são apenas dotes das selvas de pedra – ledo engano, por assim dizer. a raiz do mal pode estar plantada bem longe das ditas ‘civilizações’, escondida em meio ao mato, ao rural e aos porcos do chiqueiro.

o filme alemão ‘a fita branca’, do diretor michael haneke,  não levou o título de melhor filme estrangeiro no oscar. o que não quer dizer absolutamente nada, já que é um filme para ser compreendido (nada contra) longe dos clichês hollywoodianos. na sua prateleira, no lugar do oscar, está a palma de ouro no festival de cannes, do ano passado.

as cenas de ‘a fita branca’ são fortes. apesar de o filme ter algumas cenas longas, dimensionadas em quadros arrastados, o filme de lento não tem é nada. em alguns momentos não digerimos a primeira ideia corretamente, e a sequência nos apresenta um outro desfecho, outro novo soco na boca do estômago. dói pensar na crueldade, na sua forma mais visceral.

o mais estranho é imaginar a maldade nua e crua, arraigada ao mundano, ao banal e ao medíocre. a primeira guerra mundial é apenas um pretexto extremamente externo – como uma espécie de rumor que ouvimos de boca em boca, ao passar da casa ao mercado. pois a verdadeira maldade está dentro de um cenário bucólico, prosaico, realmente banal. imaginar que a paz e a leveza podem ser encontradas nas pequenas comunidades, onde os vizinhos se chamam pelo nome e conhecem até o seu cachorro, pode ser um erro quando o que levamos em conta é a capacidade de o ser humano ser cruel.

uma pequena comunidade protestante alemã pode ser o berço do pior que pode existir na humanidade. não existe alguém ou aquilo como o verdadeiro responsável pelos males do mundo – é como se todos o fossem, ou mesmo como se, apesar da insistente tentativa de purificar o espírito, a carne permanecesse em desalinho, consumida pelos maus hábitos e pelas constantes hipocrisia e sadismo.

o mais incômodo do filme, além de suas atuações marcantes, talvez seja a voz do narrador – seca e calosa – interrompendo a ordem, revivendo cronologicamente os incidentes que acometem sua vila antes de a primeira guerra mundial eclodir. além de, é claro, um certo silêncio sepulcral – arrastado, denso, permitindo aos nossos ouvidos apenas captar ruídos da tela crepitando na sala de cinema.

a fita branca é um símbolo, amarrado nos dois filhos mais velhos do pastor da cidadela, para lembrár-los constantemente da pureza e da inocência – virtudes há muito tempo esquecidas pela comunidade do vilarejo. ainda que mínima, a pureza aparece no filme. é que todo o cenário de ‘a fita branca’ é humano demais, moral e imoral demais. não vá ao cinema procurando diversão para toda a família – ‘a fita branca’ é um filme para ser digerido, por longos minutos de silêncio.

ficha técnica

nome: a fita branca (Das weiße Band), alemão.

duração: 144 minutos.

diretor: michael haneke (o mesmo de ‘violência gratuita’ e ‘caché’).

roteiro: haneke.

prêmio: palma de ouro, em cannes (2009)

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A FITA BRANCA, pelo viés de Nathália Costa

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