Vou apertar e acender agora

“O álcool mata bancado pelo código penal
Onde quem fuma maconha é que é marginal
E por que não legalizar? e por que não legalizar?
Estão ganhando dinheiro e vendo o povo se matar
Tendo que viver escondido no submundo
Tratado como pilantra, safado, vagabundo
Só por fumar uma erva fumada em todo mundo
É mais que seguro, proibir que é um absurdo
Aí provoca um tráfico que te mata em um segundo”

Trecho da música Legalize Já, da banda brasileira Planet Hemp

Drogas. Produtos consumidos por grande parcela da sociedade desde nossos ancestrais. Álcool. Referência que se tem hoje para qualquer confraternização ou convenção social – afinal, quem não sente vontade de ter uma happy hour ao cair da noite? Cigarro. Um produto que já foi charme, virou moda, e até hoje possui usuários. Ilicitude. Algo “contrário à lei, à moral ou à consciência”, segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa.

O documentário “Cortina de Fumaça” (2011), produzido e dirigido pelo jornalista Rodrigo Mac Niven, traz, em 88 minutos, a discussão pertinente (e sempre atual) sobre a política de drogas no Brasil e no mundo. Ao começar a procurar respostas para a polêmica que o assunto envolve, o diretor busca entrevistas e informações com pessoas de mais de cinco países. São criminalistas, neurocientistas, psiquiatras, pesquisadores, policiais, advogados, sociólogos e representantes de movimentos sociais que apontam opiniões distintas, ousadas e contrárias ao que costumamos ouvir dos grandes veículos de comunicação.

Além de pontuar a história da existência de substâncias psicoativas desde a consolidação da flora mundial, o filme conta a evolução do uso das drogas e a sua deliberada proibição – constantemente relacionada à discriminação de populações mais pobres e ao poder político-ideológico liderado por grandes potências, como os Estados Unidos. Ao intercalar informações científicas e análises histórico-culturais, a narrativa torna-se didática, apresentando fatos concretos sobre a relevância e a necessidade de se repensar uma política de drogas efetiva para toda a sociedade.

“os estados que as drogas produzem são, simplesmente, a intensificação de estados que já existem na natureza humana.” – Professor Dr. Henrique Carneiro, Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP)

A percepção de que vivemos em retrocesso é apresentada a cada depoimento. Balizada pelo discurso da criminalidade e da violência, a “guerra às drogas” mostrou-se incapaz de erradicar o problema social que o narcotráfico representa nas grandes cidades. Apoiada pela grande mídia, a busca por culpados consome enormes quantias de dinheiro para atingir o elo mais fraco dessa rede: o negro, pobre e morador da favela.

A miscelânea de opiniões tira da superficialidade outros assuntos polêmicos relacionados à questão das drogas. O direito penal, o sistema carcerário e a criminalização da pobreza formam uma importante estrutura sócio-política para entendermos o que mais está por trás do “combate às drogas”. Por outro lado, a justiça e a liberdade também aparecem como importantes aspectos capazes de polarizar a discussão: se existe uma guerra, algo/alguém deve ser punido pelo tráfico, no entanto, há que se garantir os direitos individuais para o consumo.

“o que a gente chama de populismo criminológico é exatamente um discurso que vai sendo repetido e que não informa, mas produz o que a gente chama de senso comum criminológico” – Vera Malaguti, secretária-geral do Instituto Carioca de Criminologia

Apesar de o documentário despender um foco específico para as funções que a maconha oferece, o aprofundamento do debate anti-proibicionista predomina e ajuda a compreender razões históricas, científicas e religiosas que perpassam pelo consumo das substâncias consideradas ilícitas. Paralelo a isso, resultados de pesquisas são divulgados, comprovando o maior perigo que o álcool e o tabaco (drogas lícitas) causam, comparados a drogas como ecstasy e LSD.

“Cortina de Fumaça” é um ótimo estímulo para começarmos a pensar em políticas mais avançadas, que não contribuam com o apartheid social visto há tempos na exploração de países e menores localidades, como a cidade do Rio de Janeiro (importante exemplo tratado pelo documentário).

No mesmo sentido, devemos refletir sobre o papel que a mídia exerce nessa guerra declarada. As grandes empresas de comunicação têm seu lado e enaltecem o discurso proibicionista a partir da exploração da indústria do medo. Ainda que tenhamos evidências concretas sobre os benefícios da descriminalização, o sistema de interesses lucrativos, suportados pela dominação hegemônica dos meios, não nos permite quiçá colocar em debate medidas progressistas para a política de drogas.

Qual é o verdadeiro inimigo? Infelizmente, a nebulosa fumaça ainda não permite que maioria da população o enxergue. 

Vou apertar e acender agora, pelo viés de Marina Martinuzzi
marinamartinuzzi@revistaovies.com

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