Professor Laurence e seu filme sobre Marighella


“Minha força vinha mesmo era da convicção política, da certeza (…) de que a liberdade não se defende senão resistindo”, disse Marighella ao falar sobre o dia em que foi surpreendido num cinema no Rio de Janeiro pelo DOPS carioca, em 9 de maio de 1964. Resistiu e exclamou frases que expressavam coragem em combater um regime – como ele mesmo dissera – fascista.
O professor de História da rede municipal de Esteio Laurence West também especialista em História Contemporânea foi o idealista, roteirista e diretor de um curta- metragem que retrata justamente a trajetória desse dia. Com pouco menos de 15 minutos, a filmagem dialoga com um momento específico, mas em síntese quer trazer o militante comunista Carlos Marighella para mais próximo da história do país.
O curta-metragem produzido em Porto Alegre teve parceria com o Coletivo Catarse e os artistas atuaram de forma voluntária. A ideia não surgiu de repente. Laurence percebia a ausência nos livros didáticos, na escola e na mídia de personagens da história política do país que foram fundamentais na construção de uma consciência libertadora. Partindo disso, teve a iniciativa e com muita correria fez o curta acontecer. “Foram apenas quatro meses entre a ideia e o DVD com o filme pronto. Em termos de Cinema com a produção que tivemos foi muito rápido. Considerando em termos de Cinema independente foi surrealmente mais rápido. Como historiador, não perderia a chance de realizar a pré-estreia do filme no cinquentenário da prisão de Marighella, interpretado por Sandro Marques, no cinema. E a produção buscou atingir esta meta e conseguiu”, relata Laurence.
Marighella foi militante desde a juventude. Nascido em 1911, já aos 25 anos em 1936, filiou-se no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Vivenciou os anos de autoritarismo da Era Vargas e o golpe de Estado que acarretou na Ditadura Militar em 1964.
Nas aulas de história da escola são mencionados os nomes responsáveis por anos muito difíceis aos brasileiros. Mas, os corajosos e as corajosas que enfrentaram a repressão e a tortura passam despercebidos. A importância de destacar a trajetória daqueles e daquelas que combateram os regimes repressores se faz notável nas palavras de Laurence. “Às vezes, os brasileiros nem lembram que os últimos tempos que viveram foram uma Ditadura. Muito menos lembram quem pegou em armas para resistir contra ela, porque foram difamados na época como terroristas, assassinos, assaltantes, sequestradores, marginais, comunistas que lutavam ‘contra’ o Brasil; e quem não pensasse assim também era tachado dessa maneira”, afirma.
Dentre tantos militantes que enfrentaram tempos difíceis como a Era Vargas e a Ditadura Militar, Marighella não foi escolhido por acaso para atentar toda a população brasileira, mas em especial, jovens que vêm se posicionando politicamente e procurando referências ideológicas para saber a que lado apontar. Segundo Laurence, falar sobre Marighella é importante “porque foi o herói brasileiro menos lembrado dos últimos tempos, os tempos da ditadura. Em uma Ditadura não existe muito espaço para pensar e lembrar. 50 anos após o Golpe de 1964 as frases “Ame-o ou deixe-o”, “Pra Frente Brasil” e outros slogans autoritários fazem mais parte da nossa lembrança sobre a época do que a memória dos que lutaram contra um governo subserviente ao Império dos EUA que oprimia a todos os brasileiros, com a tortura ou com a carestia”. Para ele, “os esquecimentos de Marighella foram intencionalmente produzidos através da difamação, da mentira, da censura e do medo. Primeiro difamaram e mentiram sobre o Presidente Jango, os comunistas e todos que queriam um país democrático”.
A liberdade de expressão – ainda confundida com liberdade de opressão – passou por determinados índices de censura. Atualmente, os monopólios que dificultam a inserção de grupos alternativos, questionadores e libertários, censuram porque omitem, ignoram, disfarçam. A internet surgiu como um espaço para essas vozes ignoradas pelos conglomerados midiáticos. Na Ditadura Militar a censura era violenta de maneira física e psicológica e muitos dos grandes empresários de jornais, revistas e TV foram financiados pelo Regime Militar e algumas emissoras, como a Rede Globo, financiadas por ela. Pode-se dizer que os militares e generais usaram muito o espaço midiático para maquiar a violência do regime. “Continuaram a difamar e mentir em meios de comunicação social financiados pela Ditadura manipulando a opinião pública; assim foi no suicídio de Getúlio Vargas em 1954 e assim foi no Golpe de 1964. Várias redes de TV, Rádio e Jornal que dominam a opinião pública hoje foram criadas e financiadas pela Ditadura de 64; que é o que ocorre hoje entre os Chavistas e a mídia burguesa e de direita na Venezuela e a mesma difamação e mentiras que ouvimos sobre Cuba há décadas. Por segundo, censuraram todos os meios de comunicação, artistas, ativistas, indivíduos e até jornalistas que ousam comunicar críticas ao regime de 64. Intervinham em publicações literárias, em livros didáticos e nos currículos do Ensino Fundamental ao Superior”, complementa Laurence.
“O filme está em fase de pós-produção e realizamos recém sua pré-estreia. Antes de colocarmos o filme na Internet queremos percorrer festivais de cinema e na maioria das vezes é exigido que o filme não tenha sido postado. Então podemos conseguir cópias particulares a partir do contato do facebook do curta: Cinemarighella Marighella, pelo link: https://www.facebook.com/CineMarighella?fref=ts”.
Ainda segundo Laurence, o curta tem intenção de ocupar escolas e bibliotecas, pois embora tenha sido feito artisticamente, ele afirma que “a partir do ponto de vista de professor de História eu também tinha esta intenção desde o Roteiro. E conseguimos, pois ele também se tornou uma obra paradidática no final das filmagens e de sua produção. Professores, alunos, escolas, bibliotecas, videotecas e redes de ensino podem realizar boas exibições e debates sobre a História do Brasil a partir da vida de Carlos Marighella.”
A iniciativa serve também como exemplo pra muita gente que quer fazer arte independente, mas não sabe por onde começar. Há pessoas engajadas no graffitti, no cinema, teatro de rua, música e mídias independentes. É fundamental que as ideias se cruzem a fim de fomentar e estimular a criação, além de combater os monopólios e a padronização que faz do mundo um enorme quadrado. Como diria Marighella:
 

“É preciso não ter medo,
É preciso ter a coragem de dizer.”logo

PROFESSOR LAURENCE E SEU FILME SOBRE MARIGHELLA, pelo viés de Maiara Marinho

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