[uma saliva, um tropeço]

 
desamparo
a calçada ressona no segundo andar.
mulheres de batom
derramam vinhos clandestinos
à beira de paralelepípedos,
casais de meia idade carregam suas bolsas
de supermercado,
suas dúvidas financeiras
e não me ajudarão.
atravesso a rua
para pedir açúcar:
há uma lágrima de engolir memórias
acendendo os cigarros
da última estante.
às tardes,
sigo quebrando pequenos copos,
gastando as horas em frases de desprezo
que dedico a estranhos:
não posso comprar água em garrafas
enquanto a chuva me derrama
na janela.
mudo cadeiras de lugar,
consolo azulejos
para despovoar cicatrizes
os ponteiros incólumes da parede
teus pés no mesmo número da rua
cinza
de saudade
 
 
i.
o emocional é fraco,
berrou se desculpando
aos fortes
e aos gordos
 
mas a lama
é down
azul escuro
maltratado
 
folhas despedindo galhos
o tremor das pernas
na hora do gozo
essa coisa de cair do salto
o livro imóvel na cabeça
o olhar retilíneo.
 
 
ii.
desculpem os exemplos
mas a imensidão
é um buraco
 
uma vontade débil
de render-se
 
o saco cheio
de languidez.
 
 
 
iii.
corrijam-me os bons
mas dor é essa ferida
sangue que não pergunta
se quer correr
 
a pele úmida
que antecipa a vertigem
 
uma saliva
 
um tropeço.
 
 
[atrás de mim] 

 
 
tenho segurado estes dias
como contenho expectativas,
uma a uma,
a observar teus passos
e gravar teu sorriso
mais apressado:
– também vou bem,
vou bem, e então
(sente aqui ao meu lado
que eu quero cantar o refrão
que me lembra você).
 
tenho fingido, obtusa,
que não decorei essas voltas,
as passadas inteiras,
a poesia guardada
em olhos que eu descreveria
anatomicamente,
disfarçando, em voz alta,
o lirismo piedoso
da memória.
 
tenho aniquilado desejos:
 
não quero pensar
se você soubesse
o que guardo sob frases de encontro
se você pensasse
sorrindo, em premissas não correspondidas
se você notasse,
com esses olhos que descrevo,
 
que meu silêncio quer
te escrever inteiro.
 
 
 
[uma saliva, um tropeço], pelo viés da colaboradora Camila Costa Silva.*
 
nasceu em lavras do sul, no interior do rio grande do sul, sentiu durante alguns anos o vento norte de santa maria e hoje vive em porto alegre.

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