O SOL CHEGOU, NEM LICENÇA PEDIU

Acho que a gente tem que combinar as respiradas

Vamos tentar passar ela inteira, sem parar

Vamos do início ao fim

Ôooo

Ôooooo

Áaaaaa

Áaaa

Uma moça alonga os ombros. Gira-os pra frente e pra trás; alongamento para relaxar. Antes de tudo, ginástica facial para todos. Mastigam ar para descontrair os músculos, emitem ruídos para aquecimento. No grupo, trejeitos variados. Pessoas variadas. Não há padrão. Pode ir entrando que depois a gente te classifica. O critério é simples porque não há critério. Classificações apenas para direcionar o iniciante em algum dos grupos que forma o grupo maior. Alguns ensaiam remelexos, outros se balançam ou mechem os dedos e as mãos. Há aqueles que só mechem a boca, ferozmente ou apenas abrindo-a de leve.

Sol a pino. As roupas já são diferentes, casacos ainda curtos e leves. Calças. As centenas de pessoas têm um caminho em comum. Do hospital surgem alunos, da biblioteca, leitores que aproveitam os minutos de folga entre uma atividade e outra para retirar ou devolver seus empréstimos literários. No Centro de Artes e Letras, um som de flauta ecoa. Pelos calçamentos que cortam a Universidade Federal de Santa Maria, uma romaria dispersa leva pessoas ao Restaurante Universitário. Depois da refeição, o sol mais fraco de outono convida para um descanso nos gramados do entorno.

Enquanto milhares almoçam, outros cantam. Quem sai do Centro de Educação e se aproxima da porta do Auditorium Maximun percebe um soar de vozes ritmadas. A curiosidade de alguns faz os olhos descobrirem o que há além da porta sempre aberta.

Vamos lá gente! “Mei mai mei mai mei…”

Continuem !

Mei mai mei mai mei

O Coral Vocal CE Canta surgiu da possibilidade de unir a música à pedagogia. Cláudia Bellochio, professora doutora Associada do Departamento de metodologia do ensino da UFSM, é uma das responsáveis pelo projeto que abrange o coral e outras oficinas ligadas à música.  Com Luciane Garbosa, coordena o Laboratório de Educação Musical, que, através do programa Tocar e Cantar oferece cinco oficinas distintas: Violão, Flauta Doce, Linguagem e Apreciação Musical, grupo Instrumental e Percussão e o Grupo CE Canta.

Quando surgiu, em 2002, o coro era aberto a pessoas ligadas ao Centro de Educação. A partir do aumento de interesse pela atividade, o projeto expandiu-se aos outros centros e à comunidade em geral. Pessoas que não tem ligação direta com a música ampliam a formação dos educadores musicais, que se veem sempre buscando meios de passar seus conhecimentos adiante. Durante os ensaios atuais, senhores e jovens estudantes de diferentes cursos, como se lê nas inscrições das mochilas, interagem sonoramente.

Cinco monitores regem, dão o acompanhamento no teclado e distribuem as vozes por grupos. Nos grupos, por hora, também entram para dar a confiança e guiar a consonância ao todo. Saem da regência, em frente a todos, e acham um lugar entre os tons. Do teclado, Lucas acompanha as vozes e, rindo, analisa e indica a velocidade que pode deixar a música mais harmoniosa.  Zelmielen, quando na regência, se movimenta da frente do coro até a porta do auditório. Caminhando de costas, para não deixar o grupo sozinho, sem indicações musicais, ouve a propagação das canções. Dá pra ouvir daqui do fundo, gente! Tá bem legal. Enquanto cursava Pedagogia, entrou como participante no coral e conheceu a professora Cláudia. A música se sobressaiu aos ensaios, tornou-se um anseio profissional. Zelmielen hoje cursa música, na habilitação de canto. Há seis anos é ligada ao coral.

Uma senhora desenha no ar o que parecem ser as variações da altura da voz que cantará durante a música Aquarela. Uma menina sobe ao degrau do palco para igualar a altura do seu rosto ao da colega. Elas se olham e sorriem enquanto cantam Imbauê (ou, oficialmente, In The Jungle The Lion Sleeps Tonight). Nesta música, um ouvinte de primeira visita escuta as primeiras vozes sem ainda entender que canção se delineia. São cinco grupos divididos entre pedaços da música e tipos de vozes. Cada um entoa separadamente uma parte da música, para depois convergirem em coro. Surgem, então, as solistas, que familiarizam o ouvinte com a música.

 

Quem rege Imbauê, atenta, é Jeimely. O pano de fundo, acompanhamento no teclado, é tecido por Lucas. Helena, também monitora, está em meio ao coral. Todos estudam música na UFSM e alternam a concentração com risadas, frequentes nas pausas das músicas. A atividade é séria, a descontração é essencial para o bem-estar dos participantes. Os mais tímidos do grupo tendem a se sentirem incluídos dentro de poucos ensaios. O horário destes é marcado de acordo com as tarefas externas de todos. Porém, a cada semestre o grupo renova os integrantes em aproximadamente 60%, o que desperta a atenção dos participantes fixos. Afinal, coral só funciona com um número bom de vozes. O jogo de timbres o torna belo, bem como o trabalho bem desenvolvido pela coordenadoria e monitores.

Toca em mi

Não, essa é em ré! Não é?!

E é assim, quando a tarde se aproxima das 13 horas, que as vozes vão soando as últimas frases. Alguns logo seguram suas bolsas e correm para os compromissos. Lentamente, os monitores guardam o teclado na pequena peça ao lado do palco e recolhem as letras e cifras impressas em folhas brancas distribuidas entre todos. Alguém vai para o RU? Os estudantes combinam de almoçarem juntos, agora que o restaurante já esvazia. E, para quem deixa o Auditorium Maximun, leva ao longo do dia os versos da canção de um sol que desperta até os mais sonolentos para as tarefas de mais um dia:

O sol chegou nem licença pediu
Me acordou com um tapa de luz
Porta não há que me possa abrigar
Tô no tempo, o tempo é meu lar
Hora de levantar, hora de se lavar
Hora de despertar para o dia
Hora de alimentar para poder brincar
Nós temos que enfrentar mais um dia


(letra de “Amanhecer”, de Gilvan de Oliveira e Fernando Brant)


O SOL CHEGOU, NEM LICENÇA PEDIU, pelo viés de Liana Coll e Bibiano Girard

lianacoll@revistaovies.com

bibianogirard@revistaovies.com

Para ler mais reportagens acesse nosso Acervo.

2 comentários em “O SOL CHEGOU, NEM LICENÇA PEDIU

  1. Me fez recordar do meu tempo de colégio Gonzaga onde fiz teste para o coral dos pequenos
    cantores e fui reprovado pois não tinha rítmo .Nem mesmo para chairar uma faca. Mas o
    que vale é a convivência ,a atividade grupal.

  2. Fiz parte do Coral do CE Canta quando ainda era a professora Claudia Bellochio que ministrava as aulas, fizemos até um CD, posso dizer que era um coral lindo com muitas pessoas. Foi a época mais legal de minha vida no sentido de conviência com outras pessoas de diferentes cursos. Agora moro em Porto Alegre e aqui não encontrei um coral de que pudesse fazer parte. Que saudades de nosso coral, possuo até fotos, onde recordo os momentos belos. A todos que querem fazer ou já fazem parte de um coral, aproveitem pois é um momento mágico, onde cada um se soma a um corpo que conhecemos de coral e leva uma sonoridade inimaginável e bela aos coraçoes de quem ouve com o coração.Muita paz a todos!!!!! e Muita música também.

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