DIVISÃO DO PARÁ NA TV: NA BASE DO CHORO E DO TAPA

No último dia 11 de dezembro, domingo, milhões de eleitores do Pará tinham uma missão, decidir se concordavam ou não com a divisão do seu estado. O plebiscito, de caráter obrigatório para todos os eleitores paraenses, terminou com a população dizendo “não e não” à criação dos estados de Tapajós e Carajás.

Apesar de ter tomado algum espaço na mídia, as motivações para que a divisão não fosse aceita não ficaram muito claras. Não que daí possa se afirmar que haveria clareza se a divisão fosse aceita. A questão não gira em torno disso, mas da clareza em todo o período pré-plebiscito, ou seja, seria possível, vendo de fora do Pará, por que uma das decisões seria a mais correta?

Primeiro é preciso rever as condições colocadas antes do plebiscito e como estas condições foram capazes de impulsionar este plebiscito.

PARÁ, TAPAJÓS, CARAJÁS


O Pará é o segundo maior estado do Brasil. Com mais de 7,5 milhões de habitantes, o estado é o nono mais populoso, mas, por sua longa extensão, tem uma das menores densidades do país, apenas 6,08 habitantes por quilômetro quadrado. Deste total, 4,5 milhões, mais de 60%, residem nas regiões do que restaria do território do Pará com a divisão. Os novos estados de Carajás e Tapajós contariam com uma população parecida, 1,7 milhão e 1,4 milhão, respectivamente.

Além da questão populacional, outras questões aparecem. Inicialmente, deve-se dizer que a questão de uma nova divisão do Pará é antiga. Tanto Tapajós, à Oeste, quanto Carajás, à Sudeste, tem movimentos “separatistas” há décadas. A partir disso, entram implicações atuais. O Pará tem grandes problemas em diversas áreas de assistência governamental, alta taxa de pobreza, pouco saneamento básico, falta de hospitais. Argumentos encampados na campanha do “sim” à divisão. Por outro lado, a falta de condições para que duas novas “máquinas” estaduais existissem com vigor e uma infinidade de problemas na relação entre os novos estados e grandes empresas foram argumento encampados pelo “não”.

De forma geral, pode-se dizer que nenhum dos argumentos se encerraria com a decisão pela divisão ou não. De fato, todas estas questões são parte de um problema maior e, há de se dizer, endêmicas à ordem neoliberal. Isso exposto, não há mais por que se delongar em argumentos pró ou contra a divisão do Pará. A questão que aqui importará será relativa às campanhas que culminaram no plebiscito do dia 11. Deve-se dizer que não haverá distinção, no texto, a campanha de Carajás ou Tapajós em função de ter sido feita apenas uma campanha para os dois estados.

SE SIM OU SE NÃO, FALTARAM ARGUMENTOS

No dia 12 de dezembro, um dia depois da votação e da derrota do Sim, notícias dos jornais davam conta de certa insatisfação com a campanha da opção derrotada. O descontentamento tinha nome: Duda Mendonça. Ao marqueteiro, bem conhecido nos meios políticos, é dado considerável parcela do sucesso de Lula nas eleições de 2002. Foi ele que encabeçou a campanha e, há quem diga, o responsável por alterar a imagem de Lula – saindo o sindicalista briguento e entrando o “Lulinha paz e amor”. Com uma bagagem como essa, fica a pergunta: a culpa pela derrota veio realmente na campanha de Duda?

Uma busca no Youtube é capaz de mostrar um pouco do que foi a campanha na TV, a “cereja do bolo” de qualquer campanha eleitoral. São dezenas de vídeos das duas tendências e o que se vê são quantidades exorbitantes de falta de argumentos e excessos nas trocas de acusações.

Certas coisas são muito semelhantes, por exemplo, a ideia de que são políticos interesseiros por detrás da campanha adversária ou a busca do convencimento pelo sentimentalismo. Nada muito diferente de uma campanha eleitoral normal. Na verdade, o que se pode observar, mesmo num primeiro contato, é a pasteurização dos discursos apresentados, tanto em relação de um com outro, como em relação com o discurso eleitoral padrão. Alguns dos elementos usados valem como exemplo do panorama geral.

“EU DIGO NÃO E NÃO” / TAPA NA CARA

O uso de artistas para referendar posições eleitorais já foi, e continua sendo, bastante utilizado. A campanha do “não” se valeu bastante disto. Um clipe ao estilo “We are the World”, com dezenas de artistas já demonstra isso. Mas, houve espaço também para propagandas com as atrizes Dira Paes e Nilza Maria, para o jogador de futebol Paulo Henrique Ganso, e para vários vídeos estrelados pela cantora Fafá de Belém, que chega a chorar em um deles.

O uso de elementos populares  ou de fácil absorção também foi frequente. O estádio Mangueirão, em Belém, foi usado para demonstrar quão pequeno o novo estado do Pará ficaria, o uso de “balanças” demonstrava quais seriam os pontos que deveriam ser levados em conta e o uso de vendas nos olhos mostrava, na campanha do “sim”, como estariam os paraenses ao ignorarem os problemas de seu estado. O tecnobrega também deu suas caras assim como diversas comidas típicas do estado e as belezas naturais amazônicas.

A campanha do “sim” colocou atores recebendo tapas para simbolizar como a população era enganada pelos políticos locais e usou da fama de Lula e das ligações entre Simão Jatene (PSDB) com FHC e com a “Lei Kandir” (lei de 1996 que retirou a cobrança de ICMS das exportações de bens primários como o minério, um dos maiores bens minerais presentes no Pará).

Se dissermos que as campanhas foram essencialmente “sensacionalistas” ou até “terroristas” corremos o risco de nos repetirmos exaustivamente. Os responsáveis pela campanha do “sim” eram chamados “separatistas” durante a propaganda do “não” enquanto a campanha do “sim” mostrava como o Pará que “sobrava” da divisão seria muito melhor. A campanha do “sim” falava em maior investimento federal com a divisão, enquanto a campanha do “não” decretava que só a união do Pará o tornaria “maior”.

PARÁ, PARÁZINHO

Talvez uma das maiores dificuldades encontradas na campanha do “sim” estava na permanência do nome “Pará” ao pedaço que “sobrava” do estado. A campanha do “não” explorou bastante esse ponto, colocando que “querem dividir o nosso Pará, querem fazer dele um ‘Parázinho’”. Isso, em um estado onde 60% da população permaneceria no território do “Parázinho” aliado ao amor que o paraense nutre à seu estado – que talvez só se compare ao que gaúcho nutre pelo Rio Grande do Sul -, tornou-se  verdade absoluta difícil de ser desfeita.

Não que a campanha do “sim” não tenha tentado. Primeiro a ideia de que um estado menor facilitaria a gestão, tese totalmente infeliz e desconstruída facilmente na campanha “não” – ainda mais se pensarmos que Alagoas, um dos menores estados do país, tem os piores indicadores de desenvolvimento do país em diversos índices. Além disso, o jingle do “sim” desde o primeiro dia de campanha dizia “se é bom pra todo mundo não me diga não”, tentando passar a ideia de que a região do “novo Pará” também se beneficiaria com a divisão, algo que era desconstruído diariamente pela campanha do “não”.

Por outro lado a ideia de que a divisão não servia para ninguém era também colocada na campanha do “não”. Gastos demais para os novos estados mostravam que a divisão não ajudaria as populações daquelas regiões. Aliado a isso, dizia-se que o que sobrava do Pará ficaria pequeno e pobre, uma ideia no mínimo curiosa.

Vê-se que quem dependia dessa campanha da TV não poderia ser capaz de tomar qualquer decisão embasada em fatos substancialmente construídos. O resultado, no fim, dependia muito pouco de desejo real de mudança de qualquer uma das partes e demais de chavões e respostas prontas, incapazes de solucionar os problemas nem de um, nem de três estados.

DIVISÃO DO PARÁ NA TV: NA BASE DO CHORO E DO TAPA, pelo viés de João Victor Moura

joaovictormoura@revistaovies.com

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