AUMENTOU A PASSAGEM E TAMBÉM A REPRESSÃO

Manifestação termina com violência policial em Santa Maria: Créditos: SEDUFSM

O que era para ser mais um protesto contra o aumento das passagens em Santa Maria — que, a partir das 20 horas do dia 20 de fevereiro, passa a custar R$2,60 — terminou com tiros de bala de borracha, bombas de gás, feridos e presos. No início da tarde de quinta, momentos após o início do protesto que teve como ponto de encontro a praça Saldanha Marinho, no centro da cidade, a Brigada Militar, amparada pelo Batalhão de Operações Especiais (BOE), e manifestantes encontraram-se em frente à Associação dos Transportadores Urbanos (ATU), na Avenida Rio Branco, onde teve início a repressão.

Com suspeita de irregularidade no cálculo, o valor anunciado pela prefeitura foi contestado pelo Diretório Central dos Estudantes, o que serviu de base para a manifestação dessa quinta-feira. Segundo o DCE, para preencher a planilha usada no cálculo da tarifa, foram usados coeficientes defasados, que já deveriam ter sido revistos em 2011, quando a passagem aumentou para R$2,30. Oito meses depois, em 2012, o prefeito assinaria novo aumento na noite de segunda-feira de carnaval. “O prefeito e o secretário, Miguel Passini, são advogados e fingem desconhecer o artigo 11 do Decreto Executivo 177/2006, onde se estabelece que os coeficientes utilizados na planilha do cálculo deveriam ter sido revisados até 2011. Não foram. Os coeficientes desatualizados superfaturam o preço da tarifa”, escreveu o Diretório em nota.

No entanto, diferente de outros protestos com o mesmo tema que aconteceram na cidade, dessa vez tudo acabou com feridos e presos, dando à região um ar de violência, com cheiro de gás e estilhaços. A polícia reprimiu com armas apontadas a poucos metros, o que é considerado imprudente por especialistas (informações do site Menos Letais. Clique aqui). Manifestantes machucados, em sua maioria atingidos por balas de borracha, foram surgindo entre os aproximadamente oitenta presentes. O Diretório caracterizou o ocorrido como lamentável.

Após passar em frente ao palacete da SUCV, onde se encontra o gabinete do prefeito Cezar Schirmer, a marcha desceu a Avenida Rio Branco, uma das principais da cidade,e parou em frente à ATU, onde foram feitas várias intervenções no prédio. Ali, a detenção de dois manifestantes teria insuflado um grupo maior contra a polícia. Daí em diante a avenida ficou marcada pela desproporção por parte do BOE. Em questão de minutos, o que era uma manifestação se transformou em corre-corre.  Uma mulher precisou ser socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, SAMU, e pelo menos uma dezena de manifestantes – num ato com menos de cem pessoas – ficaram feridos. Um policial também se feriu.

RELATOS, FOTOS E VÍDEOS MOSTRAM TRUCULÊNCIA NA AÇÃO POLICIAL

Créditos: Bloco de Lutas de Santa maria

As imagens gravadas (clique e veja outro vídeo) por moradores da região mostram policiais em marcha dando tiros em direção ao centro, na Avenida Rio Branco, e também na Rua Vale Machado, próximo à Câmara de Vereadores. “Os policiais iniciaram o tumulto com alguns manifestantes. A partir daí, teve início a confusão e eles começaram a atirar na gente. O pessoal se dispersou, mas mesmo assim eles continuaram atirando em quem corria. Vi ainda que alguns deles riam enquanto atiravam. Foi uma brutalidade e uma covardia sem tamanho”, disse Babi Mariano.

O estudante de Direito Guilherme Hoffmeister foi um dos manifestantes atingidos pelas costas enquanto corria. “Acho que os brigadianos entraram na massa atrás de alguém para prender sob a acusação de jogar uma garrafa de tinta na ATU. Quando agarraram um manifestante, outras pessoas tentaram protegê-lo. No caso do Lucas, menino que teve a perna atingida por uma das balas, por exemplo, o policial estava apontando para ele, baixou para o joelho e atirou. Uma manifestante ligada ao movimento da tragédia da Kiss, que estava pedindo calma, foi derrubada e uma brigadiana ficou apontando uma 12 em sua direção. Quando começou a rolar muito tiro e bomba eu decidi sair, foi aí que tomei um tiro pelas costas”.

Israel Tischler, que acompanhava a manifestação, relatou que acontecia uma intervenção em frente à ATU, onde foi jogado tinta na parede e algumas pixações foram feitas. A polícia, que até então observava, se infiltrou entre os manifestantes e teve início uma confusão. Israel também relatou que a mãe de uma vítima do incêndio na Boate Kiss levou uma coronhada na cabeça e desmaiou. Ela passa bem, embora tenha apresentado dificuldade para se mover e se localizar após ser acordada.

Segundo uma moça que preferiu não se identificar, alguns manifestantes teriam atacado um táxi, uma “minoria corria com pedras nas mãos. Todavia, foi isso e um pouco mais que ocasionou tal reação da polícia”. A história é controversa. Outra manifestante, que também preferiu não se identificar, contou outra versão para a situação envolvendo o taxista, “ele foi para cima de uma moça que estava no carro da frente, xingou e ameaçou ela. Tentou passar à força com o carro sobre a manifestação. O BOE, que estava perto, não fez nada. A moça do carro ainda pediu ajuda para nós, para tenta controlar o taxista porque o filho pequeno dela estava no carro e chorava muito”.

Machucado na perna de Lucas, alvejado pela polícia. Créditos: Guilherme Capaverde

Retirado esse relato do táxi, as testemunhas parecem concordar que o início da ação policial teria sido a pixação no prédio da ATU. O que não parece claro é a justificativa para o que parece uma reação desmedida por parte da polícia. O Capitão Rois Tavares, subcomandante do BOE, indicado para falar sobre o caso pelo próprio Batalhão, disse não poder afirmar se houve ou não excesso, mas que é grande a possibilidade de abertura de processo interno para averiguar a conduta da polícia.

Já o prefeito Cezar Schirmer enviou nota por meio de sua assessoria afirmando que “reafirma a sua postura a favor de qualquer manifestação, de protesto ou não, desde que obedecendo aos preceitos inerentes ao regime democrático e ao Estado de Direito”. O prefeito ainda lembrou o seu tempo de estudante e disse: “vivi num regime ditatorial. Sei o quanto a violência ou o desrespeito à lei é nocivo à democracia”. O Diretório Central dos Estudantes, em nota, também comparou o ocorrido na tarde de hoje com a ditadura militar: “a Brigada Militar e o BOE deram uma amostra do porquê essa corporação arcaica, dos tempos da ditadura, deve ser urgentemente desmilitarizada” (a nota completa, disponível aqui, também dá orientações aos manifestantes sobre como proceder diante da violência registrada nessa quinta).

Você pode acompanhar a cobertura em tempo real realizada durante as manifestações nas páginas da revista o Viés e do Trançarua.

AUMENTOU A PASSAGEM E TAMBÉM A REPRESSÃO, pelo viés da redação.

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