ILHADOS

Que as “casas” contêineres da Vila Brenner, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, fervem no verão e esfriam no inverno já foi divulgado aqui. Contudo, durante essa semana e em decorrência das grandes chuvas sobre Santa Maria, uma triste notícia, já esperada diga-se de passagem, foi recebida: elas também alagam. Os acontecimentos dessa semana só colaboram para que se reforce a impossibilidade de se viver dentro de uma caixa de lata. A prefeitura de Santa Maria ainda não acena para uma solução. As residências definitivas dessas pessoas, na maioria catadores, ainda sequer começaram a ser construídas.

Enquanto isso eles sofrem com as chuvas e o frio. Uma das moradoras está com todos os cobertores molhados. Quando questionada sobre como estava dormindo, responde: “Tapada com os cobertores molhados”. No meio da rua, mergulhados nas poças de água, estão os fios de luz. A prefeitura ainda não disponibilizou a energia elétrica, mesmo para os moradores que tiraram de seu próprio bolso o dinheiro para pagar um poste e uma caixa de eletricidade. Dessa maneira a solução é fazer “gatos” que não são isolados de maneira correta e ficam expostos tanto às chuvas quanto às crianças que por ali brincam. Do teto, escorre líquido de ferrugem, resultado natural do contato de metal com água. O armário de comidas ficou encharcado.

No final da tarde a Defesa Civil e a Cruz Vermelha ofereceram lonas  que os próprios moradores colocaram sobre os contêineres. Pelo que foi dito o trabalho é de apenas doar as lonas.

Essas fotos foram feitas durante a tarde da última sexta-feira, dia 29 de julho de 2011, felizmente o último dia de fortes chuvas nessa semana. As lonas foram colocadas e mais uma medida meramente paliativa foi oferecida para aqueles que não aguentam mais esperar. Resta torcer para que não aconteça o pior.

 “ILHADOS”, pelo viés de Rafael Balbueno
rafaelbalbueno@revistaovies.com

Um comentário sobre “ILHADOS

  1. Excelente matéria, excelente material fotográfico e excelente disposição d’o Viés em tornar público o sofrimento dos trabalhadores da Vila Brenner. O “escovar a história a contrapelo” de que Walter Benjamin falava se aproxima bem disto, dar voz aos anseios e esperanças dos oprimidos pelo sistema dominante, mostrar o “outro lado” da sociedade escondido pelos relatos hegemônicos da ordem atual, tomar como amigos do peito todos os marginais, todos os párias, explorados, humilhados, escravizados, abandonados e espezinhados por ordens sociais injustas, enfim, todos aqueles que, em qualquer quadrante da história, deram o melhor de si em favor de uma vida mais digna e mesmo assim perderam: numa palavra, os vencidos da história.
    Um abraço!
    “Amanhã vai ser outro dia!”

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