A art da Subsolo completa seis anos

Arte de Polin Moreira (Mala Vida). Foto: Marina Martinuzzi
Arte de Polin Moreira (Mala Vida). Foto: Marina Martinuzzi

Desde 2012, a cidade de Santa Maria vivencia polêmicas ações de combate à pixação. Em meio a operações cada vez mais repressivas do poder público em conjunto com a polícia civil para “desmascarar” os pixadores santamarienses, se envolvem na discussão do assunto a mídia, os órgãos público e privado, além de diversos moradores e artistas da cidade. Há quem defenda, respeite e dissemine a arte urbana em seu grito libertador expresso nas paredes, há quem ache um absurdo letras e caligrafias pintadas nos muros. Nesse segundo grupo, se destacam as pessoas que aceitam as intervenções urbanas na forma do grafite – como se a prática pudesse combater os pixos cada vez mais visíveis e espalhados em toda a boca do monte.
Há seis anos, com o intuito de fazer circular em Santa Maria um melhor material para a produção artística (lê-se aqui as múltiplas manifestações, como pixo, grafite, grapixo e muralismo) voltada à arte urbana, Cauê Chassot, juntamente com um grupo de amigos, deu início à loja – e ao projeto – Subsolo Art. Além da necessidade de explorar outros materiais para o desenvolvimento dos próprios trabalhos, a Subsolo também foi criada para estabelecer novos contatos e trocas de experiências e informações entre as cidades do interior do Rio Grande do Sul e, de certa forma, de todo o país. “O site proporcionou isso aí, uma maior visibilidade tanto de Santa Maria pra fora, e do pessoal de fora também pra visualizar a cidade.”, relembra Cauê, quando a loja ainda existia apenas no ambiente virtual.
No último final de semana, exatamente entre os dias 15 e 17 de maio, a Subsolo Art comemorou seu aniversário através de diversas atividades que reuniram pessoas de Cruz Alta, Erechim, Dom Pedrito e Porto Alegre.
Na sexta-feira (15), a festa foi na própria loja, com a exposição “Habitat”, do artista Amaro Abreu¹, e a exibição do documentário “Tour Pack e Credo”, mostrando a viagem que os dois artistas fizeram pelo sul do Brasil, Uruguai e Argentina, pintando paineis com as parcerias locais. No sábado, o pessoal compareceu à escola Paulo Freire, onde ocorreram oficinas de grafite, desenho e stêncil. Ainda dia 16, o grupo de percussão Atoque fez uma apresentação no encerramento das agitações. Domingo (17) foi dia de mutirão de grafite, em que todo o muro da escola foi coberto pelo trabalho da galera que reservou previamente um espacinho na parede; depois das pinturas, shows de rap também rolaram.
Tanto no sábado quanto no domingo, a escola se envolveu nas diversas ações que movimentaram a vizinhança do Passo da Areia: teve corte de cabelo a R$2,00, venda de salgados e doces, risoto de almoço, oficina e campeonato de iô-iô e roda de capoeira. “É fundamental essa troca com as escolas – são ambientes propícios a isso – porque a galerinha se identifica, são pessoas jovens que querem se identificar, se autoafirmar”, defende Cauê.
Arte Urbana e Educação
Há dez anos atividades como a do último domingo acontecem em Santa Maria, em diferentes escolas e bairros. Para Cauê, é imprescindível que o poder público e os educadores estejam alinhados para dar mais atenção às crianças, principalmente àquelas em situações de vulnerabilidade, enfrentadas, muitas vezes, dentro das próprias casas. Ao lado das oficinas, as outras ações ocorridas no final de semana também possibilitam o despertar de interesse para variadas áreas:
“É como eu digo na palestrinha: não é porque eu vou falar de grafite ali, que eles vão sair grafiteiros ou artistas, não. Mas eles podem descobrir de repente que, através do grafite, eles vão conhecer a fotografia, filmagem, ou descobrir a capoeira, futebol; não que seja no grafite ou nas artes, mas que eles tenham algumas escolhas que possam ser melhores nas vidas deles, porque eles já sofrem com muitos problemas ali. Então, se a gente pode facilitar um pouquinho a vida deles com essas atividades, com essas escolhas, oportunidades, melhor ainda.”, explica Cauê.
Especificamente na escola Paulo Freire, Cauê já tinha feito alguns trabalhos sozinhos, como a oficina de grafite que resultou na pintura do nome da instituição e, em outro momento, uma palestra seguida de exibição audiovisual. Para a felicidade das crianças, jovens e adultos, esse contato pode se ampliar a partir do evento de aniversário.
O muro que não cerca, inspira
Além da importância de se ter um lugar que centralize informações e consiga reunir pessoas e vivências, Cauê ressalta a união existente na cidade entre o pessoal que produz arte e o reflexo que essa relação traz: “A gente conseguiu botar Santa Maria no mapa da arte urbana do Brasil, digamos assim. Se não tivesse a galera, na verdade não teria por que ter Subsolo”.
Apesar das dificuldades enfrentadas com o preconceito vindo da maior parte da população, principalmente na expressão dicotômica “pixo versus grafite”, erroneamente difundida, a Subsolo já tem uma bonita história de articulação entre os artistas do interior do estado. Luise Veronez e Danos Morales, do município de Dom Pedrito, contam que, quando o pessoal começou a fazer grafite na cidade, não se tinha aonde comprar material apropriado: foi aí que conheceram Cauê, encomendaram latas de spray pela loja virtual e iniciaram uma amizade que perdura até hoje, incentivando a presença de ambos para prestigiar o aniversário.
As represálias à pixação, porém, não impediram de mostrar o desenvolvimento de traços e a pluralidade de trabalhos vistos em tapumes, paredes e muros da cidade – ao contrário, como afirma Cauê, as operações foram um dos principais motivos que fez propagar a cultura do pixo em Santa Maria. Paralelo a isso, ele também comenta orgulhoso a relação da Subsolo com essa evolução vista: “Além de a gente poder dar oportunidade pra galera nova que tá começando, tem toda essa conexão da galera nova com a mais antiga. Então, é uma troca de diálogo e de experiência positiva tanto pra quem ta há mais de 10 anos, quanto pra galera que começa.”.
Correrias e ansiedades à parte para fazer com que tudo caminhasse da melhor forma durante todas as comemorações, Cauê teve a certeza de que o evento foi muito bem sucedido, o que inclusive o motivou a organizar ideias semelhantes para desenvolver ao menos duas vezes por ano.

“A ideia é tentar fazer isso aí, que pegue de seis em seis meses, alem dos mutirões e dos muros autorizados que já ocorrem durante o ano, que a galera sempre consegue e se liga –tem esses murais que a gente faz independente mesmo – mas tentar fazer um evento que tenha essa confraternização, união mesmo entre a galera de fora da cidade, de diferentes bairros que se encontram. Tem muita gente da zone leste, da zona oeste, e nem sempre esse pessoal pode estar todo junto. Então são oportunidades que a gente pode mesclar o pessoal e ter uma troca de diálogos maior aí”

As possibilidades e os anseios de fortalecer a cultura urbana de Santa Maria são muitos. Com certeza o intercâmbio visto em todo o aniversário da Subsolo Art dá mais cor a um período em que vemos completo descaso com os espaços públicos e a privatização cada vez mais recorrente dos espaços de lazer para a juventude. De quem conseguiu participar e conhecer diferentes expressões de artistas do estado, a mensagem é uma só: nos encontramos nas próximas!
¹ Em breve, a revista o Viés publica a entrevista completa com o artista portoalegrense.
Confira algumas fotos registradas durante as comemorações do final de semana
 
                                
   
 
A art da Subsolo completa seis anos, pelo viés de Marina Martinuzzi

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