O JOGO POLÍTICO-RADIOATIVO

Hiroshima, Nagasaki; Irã, Israel.

No princípio eram núcleos

Tudo começou quando Albert Einstein teorizou a respeito da equivalência de energias e massas, para a qual toda a reação nuclear transforma massa em energia. Essa energia pode então ser usada na geração de eletricidade; ou em uma explosão nuclear.

Desde a teorização de Einstein, e da confirmação da possibilidade de geração de energia provinda dos núcleos ainda na década de 30 do século passado, sabe-se dos riscos de tal tecnologia caindo nas mãos erradas.

Hoje o Irã, país radical islâmico, é “massacrado” pelos governos e pela mídia ocidental. Isto por que estaria em busca da bomba nuclear, algo muito perigoso para a nossa civilização. Quem hoje acusa esquece-se do passado não muito distante.

Ora, se considerarmos o Irã perigoso pela possibilidade deste vir a ter a bomba atômica, o que falar do único país a usar a bomba de forma militar? Podemos confiar nos maiores arsenais atômicos do mundo para nos defender do perigo exterior?

Os cinco do Conselho de Segurança da ONU

Atualmente o Conselho de Segurança da ONU tem cinco membros permanentes: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. Todos eles têm poder de veto nas decisões do Conselho, que é formado por mais 10 membros com mandato de dois anos. Destes cinco, todos admitem ter armas nucleares, formando o chamado EAN, Estados com Armas Nucleares.

Aliás, o tal Conselho foi criado tendo por base os países que já tinham bombas nucleares, e que com a liderança necessária no mundo foram responsáveis pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

Este muito cômodo tratado de 1968 prevê que aqueles cinco países que já tinham a bomba nuclear, na época a União Soviética, atualmente a Rússia, não transfeririam tecnologia para outros países viabilizando a criação de mais arsenais nucleares. Ou seja, o tratado congela o número de países com poder de fogo nuclear. Não está previsto, no entanto, qualquer desarmamento no Tratado, mesmo que esse venha acontecendo pouco a pouco nas últimas décadas. Vê-se a disparidade entre o que um pequeno grupo pode fazer, e o que o resto do planeta deve fazer.

O Tratado foi assinado por 187 países, muitos deles abandonando seus programas nucleares – vários deles na América Latina. Um avanço. Entre os não-signatários estão Índia, Paquistão e Israel. A Índia inclusive é muito crítica ao que chama de “monopólio perpétuo” de energia nuclear. É simples de notar a comodidade do tal tratado de não-proliferação nuclear, já está no nome. Os detentores da tecnologia não querem simplesmente jogá-la fora, querem permanecer com ela, proibindo o resto do mundo de produzi-la.

Caxemira Atômica

Mesmo com o tal tratado existem outros países detentores da tecnologia nuclear: a sempre temida e ditatorial Coréia do Norte, Índia e Paquistão. Muito se sabe sobre os riscos da primeira ter a bomba, mas pouco se fala dos dois vizinhos Índia e Paquistão

Quando em 1947 a região conseguiu a independência do Império Britânico dois Estados soberanos são criados: um de maioria hindu, a Índia; e um de maioria muçulmana, o Paquistão. Entre os dois países nasce então um conflito pela região da Caxemira, que logo é anexada pela Índia, para desgosto da maior parte da população local, muçulmana. Desde então por diversas vezes a região se viu sitiada pelas duas nações, além da China – que em 1962 passou a controlar a parte mais ao norte da região. A disputa levou a uma corrida armamentista, culminando na produção de arsenal nuclear por parte dos dois países, já no fim da década passada. E um alerta nuclear soou, com as duas nações preparadas para uma guerra atômica.

Dois países em conflito têm a bomba nuclear, mas não se ouve mais falar disso.

Paranóia pós 11 de setembro

Há alguns anos uma acusação contra outro país suspeito de fabricar bombas nucleares assutou o “mundo ocidental”. Esse país, segundo especialistas em artigo para a revista Science, uma das mais importantes do mundo na área científica, poderia estar produzindo energia nuclear para fins não-pacíficos, o que culimaria na produção de até 63 ogivas nucleares por ano até 2014. Pois bem, esse país é o Brasil.

Anos atrás o país foi inquirido pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que afirmava que o Brasil poderia estar produzindo armas nucleares. O presidente do Conselho Nacional de Energia Nuclear, Odair Dias Gonçalves, defendeu o país em entrevista para a SuperInteressante de junho de 2006: “Esses comentários críticos ao Brasil partiram de grupos que refletem uma certa paranóia de que qualquer país que domine a tecnologia é uma ameaça para a humanidade”.

Tudo começou por que o governo brasileiro não permitiu que a AIEA tivesse permissão total na unidade de produção nuclear de Resende, RJ. O Brasil justificou a ação declarando ser uma forma de defesa contra a espionagem industrial, já que o país teria um programa de enriquecimento mais barato e viável que o de diversas potências mundiais. Já para a AIEA isso seria uma forma de esconder um programa nuclear militar, proibido desde que o Brasil assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

O caso encerrou-se diplomaticamente depois que a AIEA pode entrar na unidade de Resende, vendo todas as ramificações de tubos e conexões, o que segundo o governo já seria o suficiente para acabar com as suspeitas sem, porém, entregar qualquer segredo de produção. O Brasil, como se pode perceber, já foi uma ameaça nuclear mundial.

Israel e a Opção Sansão

Outro país que esconde ter ou não armas nucleares é Israel, que age veladamente, sem declarar ter armas, mas também sem dizer que não as tem. Seria a forma encontrada de: ou não possuir armas nucleares e amedrontar os vizinhos do Oriente Médio; ou não declarar formalmente a existência de um programa nuclear, poupando as autoridades israelenses de maiores problemas.

Mesmo assim, pouco se houve falar de um possível programa nuclear israelense, aliás, se atentarmos aos telejornais brasileiros veremos numa mesma notícia o medo que devemos ter do programa nuclear iraniano e um regozijo com as declarações israelenses de um novo avião não tripulado que, pasmem, pode atingir o Irã. Ou seja: tememos um ataque à Israel e exultamos pelas possibilidades do Irã ser logo destruído. O que se vê é a desigualdade de termos para duas nações conflituosas, que do mesmo jeito podem ter arsenais nucleares. Que de formas muito parecidas agem justificando o injustificável: da imbecilidade iraniana “o Holocausto não aconteceu” até a antiga máxima sionista “povo sem terra para terra sem povo”.

Países que ameaçam-se e ameaçam outros, que censuram e matam com armas químicas, que mentem e provocam. Que dizem agir pela , que têm trunfos e cartas nas mangas.

Mas o espírito do Senhor apossou-se de Sansão o qual despedaçou o leão fazendo-o em bocados, como se fora um cabrito, sem ter coisa alguma na mão. (Jz, 14, 6)

Sansão, como se sabe, foi juiz por 20 anos do povo hebreu, liderando a luta contra os filisteus, povo de origem indo-européia que esteve por quase toda a sua história em conflito com os israelitas. A lenda de Sansão relata sua força, podendo derrotar exércitos sozinhos e matar animais ferozes apenas com as mãos. Sansão devia tal energia aos cabelos longos, cortados por Dalila, que entregou Sansão aos filisteus. A morte de Sansão viria em forma de vingança: clamando a Deus força Sansão botou abaixo o templo em que foi aprisionado, derrubando ao mesmo tempo duas colunas, “e foram muitos mais os que matou ao morrer, do que os que  matara antes quando vivo.” (Jz, 16, 30).

Na Bíblia Sansão pode ter se sacrificado. Mas o que o torna diferente dos homens bombas que agem contra o Estado de Israel? O que para alguns é sacrifício, para outros pode ser apenas terrorismo. No entanto, o assutno é outro, voltemos para ele.

Sansão, pelo tal “sacrifício”, foi escolhido para dar nome ao pior dos planos israelenses, a Opção Sansão.

Mesmo que Israel não declare ter armas nucleares, a Opção Sansão trata-se exatamente do uso destas tais armas que não existem. O atual presidente Shimon Peres em declaração para um filme sobre a vida dele (não é só por aqui que temos presidentes estrelas de cinema) disse: “o objetivo desses reatores [nucleares] é de impedir a destruição [de Israel] e até agora isso funcionou. Espero que continue a funcionar no futuro”

Para a Arms Control Association Israel teria um arsenal de 75 a 200 ogivas nucleares, mas, exatamente como o caso brasileiro, tudo é especulação.

O Estado de Israel vive uma política conhecida como “never again!”, nunca mais. Referindo-se ao Holocausto, o governo israelense age, desde sua criação, com “ataques preventivos”, ou seja, ataca antes que seja atacado para que o povo judeu nunca mais sofra como no passado.

Dessa forma, a Opção Sansão seria um aviso a quem quer que seja: se formos severamente atacados puxaremos os gatilhos atômicos, mesmo que tenhamos que morrer para isso, assim como Sansão.

Uma grave ameaça israelense, que com isso praticamente admite ter arsenal nuclear. Mesmo assim, nada é feito.

O jogo político radioativo

Hoje, ao acusar o Irã, sem dúvida um dos países mais conservadores e radicais do planeta, de estar projetando bombas nucleares, esquece-se que do outro lado, o “nosso lado” ocidental, existem potências muito maiores, com artilharia milhares de vezes maior, e com a detenção de tecnologia nuclear muito mais avançada.

O que pode se observar neste intrincado jogo político é a forma de atuação das diversas nações, principalmente das mais poderosas do mundo. Enquanto existe acusação formal contra Irã e Síria por possuir armas nucleares, Israel é pouco incomodado. Enquanto deixa-se de lado Paquistão e Índia, países em conflito, acusa-se o Brasil.

O que há de tão diferente entre essas nações, suas declarações e suas atitudes? O que impede o Irã e libera os Estados Unidos, por exemplo, único país a usar armas nucleares, a possuir a bomba atômica?

Em pleno século XXI não pode se defender programas nucleares. Se a civilização funcionou deveríamos ser capazes de discutir problemas sem a necessidade de bombas e artefatos radioativos. Mas não se pode esquecer das atuais condições de cada país: enquanto um é acusado, outro é pouco incomodado. Aliás, aqueles que acusam são os mesmos que possuem armas nucleares. Não deve se defender o programa nuclear iraniano, mas o fim da hipocrisia ocidental.

Foto de Defence Images (https://www.flickr.com/photos/defenceimages/)
Foto de Defence Images (https://www.flickr.com/photos/defenceimages/)

O JOGO POLÍTICO-RADIOATIVO, pelo viés de João Victor Moura

joaovictormoura@revistaovies.com

2 comentários em “O JOGO POLÍTICO-RADIOATIVO

  1. É Preciso em primeiro lugar voltar o tempo e reparar em que contesto estes paises(EUA,RUSSIA,FRANÇA,CHINA,INGLATERRA) se tornaram grande potênçias nucleares, guerras mundias,a guerra fria e etc…..o contexto era tenso e não hávia tempo para molezas no que diz respeito a necessidade dos paise se armarem….o contexto irão e demais paise na minha opinião,repito na minha opinião são paises fanaticos e com intensões suspeitas e extremamente radicais…devia-se fazer mais esforço em apoiar os projectos da smart e smart 2 e por ai em diante e o facto de perceber que devemos partir de um principio,os paises (especificamente do conselho de segurança da ONU) Já possuem armas e o contexto é outro…não faz sentido dizermos que eles tem armas logo nós também queremos ter…os eua,russia e etc tem porque fazia sentido naquela altura agora não faz sentido ploriferar…as ideias anti-americanistas e etc deturpam muita das vezes aquilo que está em jogo…já imaginou talibãs com armas nucleares????acrdito que ainda não imaginou isto…….o brasil está a fugir muito daquilo que é a linha pacifica do brasil…como é que o presidente lula aparece a apoiar o irão?????ENTRE APOIAR PAISES QUE POSSUEM ARMAS NUCLEARES E TEM INTENÇÃO DE REDUZILAS E APOIAR UM QUE AMBIÇIONA TE-LAS,cá entre nós apoio os primeiros……já agora o eua usaram as bombas contra os japoneses,mas como todo mundo é antiamericanista,,lembra simplesmente esse facto das bombas…mas esquece-se de que os americanos estavam a dormir no pearl harbor…e foram lá os japoneses provoca-los e estes se tivessem não ezitariam em uza-las naquele dia..não sou a favor dos americanos e nem contra…só acho que é necessário saber donde estams avir e para onde vamos….sou realista…NÃO AS ARMAS NUCLEARES,o resto são cantigas e está fora da nossa compreensão…FORÇA AO NÃO-NUCLEARISMO…MAURO DINDA MAPUTO-MOÇAMBIQUE

    1. Olá Mauro,
      Obrigado pelo comentário.
      Concordo com a mudança de contexto entre os programas nucleares das cinco potências e do Irã. Esse é exatamente o ponto, como você, sou totalmente contra o uso, a fabricação e o armazenamento de artefatos nucleares. Mas é exatamente pelo contexto que tenho a opinião disposta no texto. Tal contexto mudou, não estamos mais na Guerra-Fria, no entanto os arsenais nucleares pouco diminuem. Não sou a favor de um programa nuclear iraniano em sua essência, mas dentro do contexto atual não sou contra, afinal o Irã, usando uma expressão sua “está a dormir” em suas bases militares, enquanto Israel ambiciona atacar seu território, e pior, diferente dos japoneses eles TÊM armamento nuclear. Talvez você também pode não ter visto isso.
      Entre as duas opções apresentadas, não fico com nenhuma, aliás esse negócio de dicotomia já vivemos durante muito tempo por aqui, no Brasil (a ditadura militar dava duas opções aos brasileiros: Brasil, ame-o ou deixe-o). A dicotomia não é nada agradável para discussões, ainda mais se falamos de armamentos nucleares.
      Existe uma terceira via, a minha preferida: o desarmamento TOTAL de TODOS os países com armas nucleares.
      Enquanto isso não ocorre, só posso considerar que tais potências querem o controle de tais atividades afim de elemento de dissuasão. E se eles podem dissuadir quem eles quiserem, por que o Irã não pode? A hipocrisia se esconde na falta de vontade em acabar com armas nucleares por parte de vários países ocidentais (e não se engane, se eles têm um dia podem usá-las!) enquanto não permitem aos outros – inclusive fazendo um acordo ultrainjusto aos que não tinham armas nucleares, o tratado de não-proliferação nuclear.
      Abraços do Brasil
      João Victor Moura

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