Persépolis: guerra e resistência nos quadrinhos

Em Persépolis, o retrato da descoberta de um corpo feminino numa cultura machista, o interesse pelo rock e por um país comunista no Oriente Médio são descritos como parte do processo de interpretação de uma jovenzinha sobre os conflitos culturais e políticos em que vivia. De pequena, levantando o punho na sala de casa com gritos de “morte ao xá! morte ao xá!”, à adolescência, em que disse ter iniciado após fumar o primeiro cigarro.

“Esse primeiro cigarro me tirou definitivamente da infância. Agora eu tinha crescido”.

A autobiografia de Marjane Satrapi sensibiliza ao relatar sem misticismo um país localizado numa região explorada pelo desenvolvimentismo autoritário. Marjane, bisneta de um Imperador do Irã, viu familiares serem presos e torturados. Cresceu ouvindo sobre a guerra entre o seu país e o Iraque. Durante a noite, distraía-se observando as semelhanças físicas entre Deus e Marx, com quem conversava frequentemente.

“Eu me divertia vendo como Deus e Marx eram parecidos. O cabelo de Marx era um pouco mais crespo”.

Aos 10 anos, Marjane sofria pelas crianças palestinas, queria ser profeta, ansiava por histórias militantes de seus pais e de sua avó mas, principalmente, começou, nesta idade, a descobrir o mundo e a si.
Assim como em outros países, no Irã diversos grupos com correntes teóricas políticas também diversas disputam o governo. A complexidade da realidade no Oriente está na existência de outras forças externas e militares que dificultam um processo de pacificação da vida. A família de Marjane Satrapi, por exemplo, lutava por um regime comunista e sua história foi desenhada nos quadrinhos em formato de autobiografia feito em 2001 e lançado em animação seis anos depois.
As conversas com sua avó sobre o proletariado, a luta de classes e sua admiração ao combatente Che Guevara externalizavam, ao mesmo tempo, a busca por uma outra sociedade e a falta de espaço para expressar o pensamento, o sentimento e a criação. Os conflitos internos, que só ela podia resolver, fizeram parte do processo, muitas vezes, do endurecimento de seus sentimentos em relação às situações em que vivia. Em um momento do livro, Marjane relata a transformação do significado da religião para ela.

Deus: Então você não quer mais ser profeta.
Marji: Que tal mudar de assunto?
Deus: Você me acha parecido com Marx?
Marji: Já falei para mudar de assunto!
Deus: Amanhã vai fazer sol.

E a conversa é logo interrompida quando ela ouve seus pais falando sobre o incêndio no Cinema Rex e, ao saber de uma manifestação no dia seguinte, coloca um lenço na cabeça e se orgulha por estar parecida com Che. Aos poucos, Deus se distancia de seus pensamentos. Isso é consequência do autoconhecimento, do conflito interno que afirma o que somos com o passar do tempo. O acúmulo político é demonstrado em diversos momentos em situações de questionamento de Marjane sobre a realidade à sua volta. Como quando ela escreve em seu diário sobre a luta de classes.

“A razão da minha vergonha e da revolução é a mesma: a diferença entre as classes sociais. Falando nisso, aqui em casa tem empregada”.

A Revolução Islâmica em 1979 se tornou um regime autoritário. A família de Marjane discordava desse processo de transformação social. Ao longo do tempo, sua rebeldia revolucionária enfrentava poderes que não podia combater, com isso, sua família convenceu-a de ir para outro país experimentar as liberdades que procurava. A história de Marjane é inspiradora, pois aproxima a resistência e a luta da população Iraniana contra a ditadura. Além disso, alerta todos e todas revolucionárias do mundo para os conflitos e a realidade de colonização em outros países. Persépolis era uma cidade localizada no atual Irã. Ela possuía muitas riquezas e foi saqueada e queimada pelo exército de Alexandre, o Grande. O nome do livro relaciona-se à antiga cidade, pois é o motivo de um conflito existente por interesses financeiros. Mas também, é a história de um povo resistente e indignado que se reconstrói e enfrenta a guerra. 
Persépolis: guerra e resistência nos quadrinhos, pelo viés de Maiara Marinho.
Foto de capa: Reprodução/Outras Palavras.

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