SUL DO CHILE: ENTRE O TURISMO E A MANIFESTAÇÃO POPULAR

O relógio marcava exatamente 14h, quando o carro foi parado e tinha em sua frente dois ônibus, uma van e uma caminhonete – que impediam o avanço a quem ia para a cidade de Cerro Castillo (fronteira entre os países Chile e Argentina).

A saída tinha sido do Parque Nacional Torres Del Paine, um ponto turístico mundial. A paisagem tão bela do local contrastava com o lamentável cenário privatizado que refletia nas cercas e nos preços exorbitantes cobrados nos hotéis e nas áreas de camping proporcionadas.

Já com essa impressão, a conversa com os manifestantes fluiu muito produtiva, já que a reivindicação contra o aumento de 16,8% no preço do gás é igualmente oposicionista à força do capital sobre a natureza e, nesse caso, sobre o povo.

A classe trabalhadora, que incluía motoristas, guias turísticos e agricultores, estava organizada há três dias. As cidades mais envolvidas eram Punta Arenas, Cerro Castillo e Puerto Natales. Todas pontos de muita visitação estrangeira. Punta Arenas e Puerto Natales pararam. O comércio entrou em greve. A região de Magalhães mostrava, assim, a sua força.

Dentro do Parque, o desespero de alemães, italianos, brasileiros e muitas outras nacionalidades era visível em cada gesto de carona recebido na beira da estrada. Era o verdadeiro “ninguém entra, ninguém sai”.

Em entrevista gravada, a presidenta da Associação Gremial de guias locais turísticos de Puerto Natales, Paola Cardenas, explicou porque a causa que reivindicavam era justa. “O gás nessa região é indispensável; mais ou tanto indispensável como água. O gás faz funcionar a eletricidade, o abastecimento, o combustível. Se sobe 16,8% do gás, vai ser 16,8% em todos os serviços e em toda a economia da região.”.

Já houve renúncia de quatro ministros chilenos. O cenário parece o de um governo que está em crise, mas faz o possível para esconder tal situação.

É claro que o alto poder também guarda demasiado interesse nessa questão, e a evidência disso veio do depoimento de Paola. Ela comentou que a empresa Metanex – companhia que processa, distribui e extrai metanol da região – libera muitos milhões de dólares para o governo; e ainda complementou dizendo que a empresa consome 80% do gás da região, enquanto apenas os 20% restantes são utilizados pela população.

Muitas horas de reunião não levaram a nenhum acordo e, pelo visto, ainda não houve também uma pressão internacional ao governo chileno para a liberação oficial dos turistas.

A repercussão dos protestos que atingiu a grande imprensa internacional, até agora, segue a linha tendenciosa e conservadora – ditando episódios suspeitos e que vão de encontro à opinião dos manifestantes.

A líder da Associação dos guias deixou bem clara sua posição em relação ao que os turistas estão passando. “Estamos aqui para fazer um bloqueio pacífico. Os turistas: Entendemos a sua posição, que estão num lugar equivocado, num tempo equivocado, numa situação que não lhes pertence, lamentavelmente. Peço mil desculpas pelo que está sucedendo.”. Depoimento que faz todo o sentido, uma vez que muitos manifestantes tiram sua renda das atividades turísticas.

A organização dos chilenos da região de Magalhães prova como uma mobilização conjunta é capaz de defender os direitos dos cidadãos. O governo tenta mascarar a crise, enquanto os trabalhadores continuam em busca de barrar o aumento no preço do gás.

Não há perspectivas da liberação oficial das estradas, nem da volta regular do comércio. O governo chileno irá atender as necessidades de seu povo, ou continuará dando preferência ao capital? Pode não parecer, mas pessoas do mundo todo aguardam essa decisão.

SUL DO CHILE: ENTRE O TURISMO E A MANIFESTAÇÃO POPULAR, pelo viés de Marina Martinuzzi

4 comentários em “SUL DO CHILE: ENTRE O TURISMO E A MANIFESTAÇÃO POPULAR

  1. Eu e meus amigos ficamos 04 dias retidos na cidade de Puerto Natales. Achei incrivel a união dos moradores. Do picolezeiro ao grande empresário, todos unidos pela mesma causa. Porém, nós turistas não tínhamos culpa e pagamos um preço muito alto. Ficou muito feio para o governo chileno.

  2. Eu não cheguei a ficar preso na cidade, mas tive que abortar minha ida a El Calafate. Fiquei negativamente impressionado com o povo da região. Eles são regionalistas e tem mentalidade muito atrasada. Criaram uma confusão gigantesca para conseguir vantagens na negociação com o governo, usando, propositalmente, os turistas como moeda de troca. Minha recomendação é evitar a região chilena da Patagônia a qualquer custo. A Patagônia Argentina tem muito mais atrações que o Chile e é muito mais civilizada.

  3. Estive lá e fiquei presa com meus três filhos todos adolescentes, passamos sérios apuros e muito constrangimento. A greve não era pacífica, fomos hostilizados na rua e maltratados muito. Um absurdo, procurar seus direitos ameaçando o direito de pessoas inocentes. Esta parte do Chile deve ser evitada pelos turistas, e a população que fez tal greve não é pacífica, agiram como guerrilheiros.

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