PRA QUE(M) SERVE O FUTEBOL BRASILEIRO?

Muito do que se faz no Brasil e se chama de jornalismo esportivo nada mais é do que entretenimento. Na televisão, em verdade, a fronteira é sempre muito tênue, o que não tira a importância do fato de essa linha ter sido ultrapassada com os dois pés quando o assunto é futebol profissional.

A Rede Globo, que até pouco tempo vinha detendo o controle absoluto das transmissões de futebol no país, abandona, na maior parte das vezes, o jornalismo, tornando as coberturas futebolísticas um grande show de mesmice e entretenimento. Com “João Sorrisão” e diversas outras invencionices, força situações que impeçam a limitação das transmissões às burocráticas entrevistas à beira do gramado. Mas a emenda sai pior do que o soneto, e o que poderia ser feito através de perguntas inteligentes e questionamentos relevantes – que levariam a respostas relevantes – é feito com o burlesco como norma.

Nas entrevistas de campo, o repórter finge que pergunta, o jogador finge que responde, e o trabalho viciado atropela e reduz a competência até mesmo de repórteres acostumados a boas matérias extra-campo. E, fora de campo, a TV Globo cria brincadeiras que se distanciam da prática jornalística e transformam o futebol brasileiro em uma piada onde tudo gira em torno da emissora. Com sua influência, faz com que os jogadores comemorem os gols imitando um boneco, ou lamentem quando fazem apenas dois gols em uma partida e não conseguem “pedir música no Fantástico”. A tentativa de fazer com que todo o futebol do país gire em torno da Globo não é mais uma dessas brincadeiras, mas as inclui como ferramenta de hegemonia, assim como inclui os acordos com a CBF e o controle sobre o horário das partidas.

Quando alguém ousa não se submeter ao domínio global, é tratado como um extraterrestre. Foi o que aconteceu recentemente com três jogadores estrangeiros, que não têm de lidar, em seus países, com essa espetacularização – e, com isso, esvaziamento do senso crítico – do futebol, que acompanha a transformação do esporte em pouco mais do que uma ferramenta de marketing das grandes empresas de alguns setores da economia. Os atacantes Barcos, do Palmeiras, e Loco Abreu e Herrera, do Botafogo, desafiaram o showrnalismo da TV Globo.

Barcos reclamou de um repórter que insistia em comparar sua aparência com a do cantor Zé Ramalho. “Me parece pouco sério da tua parte”, disse o centroavante argentino ao repórter Leo Bianchi, da TV Globo. Loco Abreu, após perder um gol e ser perguntando sobre o “Inacreditável Futebol Clube”, rebateu: “O Inacreditável Futebol Clube é uma bobagem que vocês têm para sacanear o jogador de futebol, mas só quem está lá dentro sabe bem como é difícil jogar futebol”. E, no último final de semana, Herrera fez três gols contra o São Paulo, e se recusou a “pedir música no Fantástico”, mostrando, também, desacordo com esse tipo de jornalismo alienante. E foi xingado, via Twitter, por um repórter da Globo.

Da mesma forma, volta e meia alguns técnicos – Felipão, Renato Gaúcho, Dunga, Muricy Ramalho – são taxados de grosseiros por se incomodarem com perguntas que demonstram um total desconhecimento do futebol por parte dos repórteres. Estes são, em boa parte, apenas palpiteiros, que chegam às entrevistas com perguntas prontas – sempre as mesmas, com pequenas variações – e que, no vício frenético da rotina, não chegam a aprofundarem-se minimamente nas questões que pretendem abordar.

Os preparativos para a Copa do Mundo têm mostrado o despreparo da TV aberta brasileira para cobrir com profundidade as diversas questões que envolvem o esporte. Essa dificuldade não nasce por acaso, vêm justamente de uma prática viciada, acomodada no faz-de-conta. É preciso desacomodar, e alguns jogadores estrangeiros já têm mostrado que isso tudo pode ser diferente.

PRA QUE(M) SERVE O FUTEBOL BRASILEIRO?, pelo viés do colaborador Alexandre Haubrich*

*Haubrich é jornalista e editor do blogue JornalismoB e do JornalismoB Impresso. Colabora com diversas publicações, entre elas a revista o Viés. Leia outros textos publicados por Haubrich na revista o Viés aqui

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