Eleições 2014: Entrevista com Mauro Iasi (PCB)

Foto: Site Mauro Iasi/Divulgação
A revista o Viés em parceria com a revista Vírus Planetário realizou uma série de entrevistas com os candidatos – e anticandidatos – da esquerda à presidência nas eleições 2014. Faltando poucos dias para o 1º turno das eleições o que se espera é contribuir com o debate sobre temas importantes e muitas vezes esquecidos pelas grandes candidaturas. Com reduzido tempo de televisão e baixo orçamento os candidatos Mauro Iasi (PCB), Zé Maria (PSTU) e a candidata Luciana Genro (PSOL) têm dificuldade para atingir um eleitorado tão grande quanto o brasileiro, mas expressam – cada qual a sua maneira – ideais políticos que rompem a ordem estabelecida e projetam novos horizontes para a grande parcela da população cotidianamente explorada pelo capitalismo. Além dos três candidatos da esquerda tem ainda uma entrevista com um anarquista, que contrapõe as candidaturas da esquerda como ferramenta política. Quatro versões do debate a respeito dos temas que nos são caros para você decidir votar (ou não). Boa leitura.
A seguir a entrevista com Mauro Iasi, candidato do Partido Comunista Brasileiro (PCB) à presidência. A entrevista foi concedida à revista Vírus Planetário.
Vírus Planetário: Mauro, você é conhecido pela sua trajetória na academia por sua produção acadêmica. Qual você acha que é a sua contribuição como candidato a presidente?
Mauro Iasi: Minha contribuição é a de um militante do Partido Comunista Brasileiro que aceitou a tarefa de, na condição de candidato a presidente nestas eleições, transmitir as ideias de nosso partido e percorrer o Brasil para, nos diversos encontros, atividades, palestras, debates com a militância partidária e representações de diversos movimentos sociais e populares com os quais temos dialogado, esclarecer acerca da proposta de construção do Poder Popular e da necessidade de mobilização permanente dos trabalhadores, dos jovens, das mulheres, negros, homossexuais, índios e dos diversos segmentos que lutam por seus direitos, para o embate contra a dominação capitalista e em defesa de uma sociedade alternativa, a sociedade socialista. Minha trajetória acadêmica, minha militância no setor da educação pública superior e minha atuação no campo da educação popular muito contribuem para esta experiência, mas fundamentalmente hoje trata-se de um processo de convencimento político, na luta para que a classe trabalhadora assuma seu papel na construção de uma real alternativa de poder proletário no Brasil.
VP: Qual o projeto político a sua candidatura e se partido tem para o Brasil se você for eleito?
MI: Estamos convictos de que é necessário superar radicalmente a ordem institucional e social burguesa. A maneira que a burguesia encontrou historicamente foi o desenvolvimento de uma institucionalidade política na qual muitos participam, através do voto, mas poucos governam, para evitar a ditadura da maioria e garantir o governo da minoria de proprietários. Para reverter isso não basta uma reforma política ou a engenhosidade de sistemas de representação, organização partidária e sistemas eleitorais com maquiagens que mantêm a essência da dominação burguesa. Só é possível contrapor o poder capitalista com o poder proletário. A única maneira de contrapor o poder daqueles que querem manter as formas de propriedade atuais e as relações sociais de produção a elas associadas é constituir um poder capaz de enfrentá-los com força para derrotá-los, neutralizando ou destruindo seus recursos de poder. A alternativa socialista deve-se constituir em sua luta contra a ordem burguesa como um poder que se apresente, igualmente com força, como poder político que se constrói a partir da generalização das demandas populares e nas lutas concretas por melhores condições de vida e trabalho e por direitos, para que ganhem a consistência de demandas universais e que expressem, na ação e nos valores nelas manifestados, uma nova consciência social, capaz de transformar os trabalhadores em classe hegemônica, dirigente e protagonista de uma alternativa de sociedade contra a ordem do capital. Este é o projeto político do PCB. É o que chamamos de Poder Popular, no rumo da construção do socialismo e do comunismo.
mauro2VP: Em seu programa de governo você apresenta o socialismo como não só uma alternativa, mas como uma urgência para o país. Na prática, o que isso significa? É possível fazer uma revolução a partir da presidência da república?
MI: A construção do Poder Popular por um Brasil Socialista implica em uma ruptura que pode ser combinada ou não com vitórias e embates eleitorais, mas certamente vai além destes, exigindo a auto-organização e a mobilização dos trabalhadores em defesa de seus direitos e de seus interesses históricos. Não temos ilusão de que faremos a revolução em virtude apenas de uma vitória eleitoral, a qual, caso aconteça, já demonstrará a predisposição das massas brasileiras em promover mudanças profundas no país, mas será preciso uma mobilização permanente e cada vez mais radicalizada, no sentido do enfrentamento aos imperativos do capital, para que consigamos construir um novo modo de vida alternativo ao capitalismo. Sem dúvida, a presença do PCB, das demais forças de esquerda revolucionária e dos movimentos sociais e populares no interior da máquina de Estado só terá sentido se for para contribuir para a transição socialista, através de medidas como a estatização dos setores estratégicos da economia, do sistema financeiro, da saúde, da educação e dos transportes, acompanhada do amplo controle popular, garantida a participação dos trabalhadores e da população nas decisões a serem tomadas, num processo de democracia direta que é o Poder Popular.
VP: Como você pretende combater o machismo, racismo, homofobia, lesbofobia e outras formas de opressão?
MI: Tratando tais manifestações como crimes que devem receber do Estado a mais firme resposta através de punições severas, na forma da lei. Mas, além disso, é preciso desenvolver um conjunto de medidas e práticas capazes de promover o contraponto à forma de sociabilidade burguesa e capitalista, pois a sua continuidade nos levará à barbárie, a qual se manifesta não como possibilidade, mas como realidade presente na degradação societária própria da ordem burguesa contemporânea que se caracteriza cada vez mais pela intolerância, irracionalidade, violência, consumo desenfreado, individualismo, racismo, sexismo, homofobia, xenofobia, etc. A civilização do capital se converteu em barbárie, a barbárie é a forma atual da civilização capitalista. No contraponto da barbárie capitalista, é preciso contribuir para a construção de um processo decidido de desmercantilização das relações sociais, visando ao desenvolvimento dos seres humanos em todos os sentidos. Temos que superar a concepção equivocada de que o socialismo é somente a produção acelerada de bens e serviços sob o comando de um Estado dos trabalhadores. O principal produto da transição é a criação das condições nas quais se possa germinar um novo tipo de sociabilidade e um ser social emancipado, que será o sujeito da construção de uma nova sociedade, sem classes e sem Estado: o comunismo. Não se trata de produzir mais, mas de mudar a forma de produzir mudando a forma de vida, humanizando-a até que seja possível a livre associação dos produtores livres. As condições econômicas e o modo de vida são a base para a criação de uma nova subjetividade que se expressa numa nova consciência social, na qual não haverá espaço algum para manifestações racistas, machistas, homofóbicas e demais formas de preconceito e opressão. logo
Para saber mais acesse o Programa de Governo da candidatura.
Eleições 2014: Entrevista com Mauro Iasi (PCB), pelo viés da revista Vírus Planetário.
Veja também as outras entrevistas da série sobre as eleições 2014:
Luciana Genro
Zé Maria
Um olhar anarquista sobre as Eleições

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