Eleições 2014: Entrevista com Zé Maria (PSTU)

foto: Romerito Pontes
A revista o Viés em parceria com a revista Vírus Planetário realizou uma série de entrevistas com os candidatos – e anticandidatos – da esquerda à presidência nas eleições 2014. Faltando poucos dias para o 1º turno das eleições o que se espera é contribuir com o debate sobre temas importantes e muitas vezes esquecidos pelas grandes candidaturas. Com reduzido tempo de televisão e baixo orçamento os candidatos Mauro Iasi (PCB), Zé Maria (PSTU) e a candidata Luciana Genro (PSOL) têm dificuldade para atingir um eleitorado tão grande quanto o brasileiro, mas expressam – cada qual a sua maneira – ideais políticos que rompem a ordem estabelecida e projetam novos horizontes para a grande parcela da população cotidianamente explorada pelo capitalismo. Além dos três candidatos da esquerda tem ainda uma entrevista com um anarquista, que contrapõe as candidaturas da esquerda como ferramenta política. Quatro versões do debate a respeito dos temas que nos são caros para você decidir votar (ou não). Boa leitura.
A seguir a entrevista com Zé Maria, candidato do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) à presidência. A entrevista foi concedida à revista Vírus Planetário.
Vírus Planetário: É muito comum ouvir das pessoas que o presidente não governa sozinho. Que um presidente não tem condição de mudar a realidade de um país. Qual a importância, então, de ter um socialista como você na presidência dentro da democracia representativa no capitalismo?

Zé Maria: A nossa candidatura tem como objetivo, em primeiro lugar, apresentar um programa que aponte as mudanças que o país precisa para que o povo possa ter vida digna. E, em segundo lugar, discutir com os trabalhadores e jovens do país como promover estas mudanças. Acreditamos que é necessário um governo dos trabalhadores, sem patrões, que enfrente os privilégios das grandes empresas e bancos para mudar o país. Um governo assim só existirá e só poderá governar se estiver apoiado numa ampla mobilização social. Por isso, dizemos na campanha que não basta votar, que é preciso lutar, é preciso muita mobilização social para mudar o Brasil.

Ou seja, não acreditamos que seja através das eleições, controladas pelo poder econômico como as que temos no Brasil, que serão construídas as mudanças que o país precisa. Vivemos numa democracia que só é real para os ricos, para as grandes empresas. O grande empresariado controla as eleições através do financiamento das campanhas dos políticos e através do controle da TV. São completamente desiguais as condições em que concorrem as várias candidaturas e isso evidentemente interfere no resultado das eleições.
Apresentamos a candidatura para defender o nosso programa e para ganhar o maior número possível de trabalhadores e jovens para a defesa deste projeto de mudança para o nosso país. Porque assim, fortalecemos o projeto de um Brasil para os trabalhadores, do fim do pagamento da dívida aos banqueiros para investir em saúde e educação, do fim dos subsídios e isenções às grandes empresas, da redução da jornada para garantir emprego para todos, de aumento nos salários, enfim, cada voto que recebermos será um ponto de apoio a um programa de classe e socialista para o país.

[2014-06-15] Seminário Nacional Eleitoral_043_Romerito PontesVP: Como você encara a lei eleitoral que não garante a sua participação nos debates?

ZM: A lei eleitoral, assim como todo o regime político, é absolutamente injusto e desigual. A começar pelo tempo de TV, que privilegia os grandes partidos e as alianças espúrias. A que determina que as emissoras e demais veículos de comunicação chamem apenas os candidatos cujos partidos tenham representação na Câmara é mais uma expressão disso. É um mecanismo para vetar as candidaturas que são contra esse sistema político e, ao mesmo tempo, para divulgar as mesmas candidaturas. Funciona, na prática, como uma espécie de censura à população, que tem retirado seu direito de conhecer todas as propostas e candidaturas colocadas nessas eleições. É importante ainda destacar o papel cumprido pelos veículos de mídia, principalmente as grandes emissoras. Ao mesmo tempo que a lei obriga o convite para os debates aos candidatos com representação parlamentar, ela não veta o chamado aos demais. Ou seja, em nome do direito à informação e à liberdade de expressão que dizem tanto defender, poderiam chamar todos os candidatos para que exponham suas propostas e pontos de vista. Mas não o fazem, chancelando esse veto colocado pela lei eleitoral.

VP: É sabido que a mídia grande tem um papel muito significativo nas eleições. Como você vê esse papel e em que medida ele atrapalha as candidaturas dos partidos menores?

Como já coloquei, a imprensa burguesa atua como extensão desse sistema eleitoral injusto construído para que as coisas continuem como estão, para que os mesmos de sempre sejam eleitos. Isso ocorre em relação aos debates na televisão e à própria cobertura diária da campanha eleitoral. No Jornal Nacional, por exemplo, enquanto quatro candidatos tiveram 15 minutos na entrevista realizada ao vivo na bancada do jornal, incluindo aí o candidato do PSC cuja intenção de voto é a mesma que a nossa segundo o último Datafolha, tivemos apenas 40 segundos de uma entrevista gravada. Isso ocorre em todas as emissoras. Nossa candidatura é escondida conscientemente para que a população não conheça nossas propostas e ache que os únicos candidatos colocados aí são Dilma, Marina e Aécio. Além disso, nos poucos casos em que se cobre ou se expressa a nossa candidatura nessa imprensa, assim como as demais candidaturas de esquerda, ocorre uma tentativa de nivelá-las com os outros candidatos de legendas de aluguel, impingindo a pecha de caricato e pitoresco sob o guarda-chuva da expressão “nanicos”. Ao invés de informar, então, a imprensa burguesa desinforma e distorce.

VP: Como você pretende combater o machismo, racismo, homofobia, lesbofobia, transfobia e todas as outras formas de opressão?

O programa do PSTU coloca a luta contra as opressões como uma das mais importantes, sempre com o viés de classe. Por exemplo, nessa sociedade machista, todas as mulheres sofrem com o machismo, mas sobretudo as mulheres trabalhadoras, que recebem salários menores, não tem creches para seus filhos, não tem recursos para fazer um aborto numa clínica com segurança. A mesma coisa ocorre com os negros e LGBTs. A luta contra a opressão, assim, se dá junto com a luta contra a exploração. Nosso programa prevê a criminalização do machismo, do racismo e da homofobia, lesbofobia e transfobia, e a adoção de políticas públicas específicas para atender esses setores. Isso pressupõe, por exemplo, a construção de casas abrigo para as mulheres, mais delegacias da mulher (que funcionem 24h por dia), a aplicação de fato da Lei Maria da Penha, etc. No caso do racismo passa pelo fim do genocídio da juventude negra praticado pela polícia nas periferias, a desmilitarização e o fim da PM, políticas reparatórias como as cotas e a sua ampliação onde já tem e uma série de medidas levantadas pelo movimento negro e que este governo não encampa. No caso dos LGBTs, acreditamos que um dos principais pontos hoje seja a criminalização da homofobia, a garantia de todos os direitos que os heteros têm (como o de se casar), e também políticas públicas específicas para cada setor. É um absurdo, por exemplo, que uma pessoa trans, que já sofre com o preconceito e estigmatização nessa sociedade, tenha que passar por tanta dificuldade e constrangimento para mudar sua identidade e documentos e conseguir uma cirurgia de adequação sexual.

VP: O “efeito Marina” preocupa a sua candidatura?

A candidatura Marina preocupa tanto quanto as outras opções burguesas colocadas aí, como Dilma e Aécio. A diferença é que ela é vista por setores importantes, como a juventude que foi às ruas em junho de 2013, como uma alternativa ao PT e ao PSDB, essa falsa polarização que já cansou a população. Quando o conjunto das instituições, incluindo aí os políticos, sofre um enorme desgaste, Marina Silva é vista como algo diferente, como ela mesmo coloca, uma representante de uma “nova política”. Mas sabemos que isso não corresponde à realidade. Marina Silva quando ministra aplicou políticas para beneficiar os ruralistas e empreiteiras. Seu programa de governo prevê medidas tipicamente neoliberais, como o reforço do ‘tripé macroeconômico’, ou seja, câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário (ajuste fiscal). Foi feito ainda por tucanos históricos. Seu vice é um representante do agronegócio. Tanto no que se refere à forma (as alianças costuradas com o PSB e demais partidos), quanto em relação ao conteúdo de seu programa, Marina Silva representa mais do mesmo que sempre representou a “velha política”. Nossa candidatura, diante disso, atua para desmascarar Marina, assim como Dilma e Aécio, mostrando à população que essas três candidaturas representam a continuidade dessa política que privilegia os banqueiros, empresas e empreiteiras em detrimento dos trabalhadores e da grande maioria da população.

10527765_332403020247070_2628186045832378417_nVP: Olhando lado a lado a sua candidatura, da Luciana Genro e do Mauro Iasi podem parecer muito semelhantes. Os 12 anos de governos do PT tem algum peso nessa fragmentação da esquerda? Por que votar no Zé Maria para presidente e no PSTU como um todo?

O retrocesso na consciência dos trabalhadores, causado pela traição do PT aos ideais socialistas e classistas afetaram também uma parte da esquerda socialista. O PSOL se reclama socialista, mas não defende um programa socialista nas eleições alegando que dificultaria a disputa pelos votos; faz aliança nas eleições com o PT e o PSB no Amapá; e recebeu dinheiro de pelo menos um grande grupo empresarial para financiar sua campanha. É assim que o PT começou a se desviar de um ideal de classe no inicio da década de 80. Hoje todos podemos ver como acaba esta historia…

O PSTU resgata e mantém, de forma coerente, a defesa de um projeto operário e socialista para o Brasil. Fazemos da nossa campanha um ponto de apoio para fortalecer a luta e a organização dos trabalhadores e jovens para avançarmos na construção das condições para mudarmos nosso país. Votar no PSTU é fortalecer esta luta. Esta é a razão pela qual aqueles e aquelas que querem uma mudança em nosso país, que ponha fim à injustiça e a desigualdade, à toda forma de exploração e opressão que caracteriza esta sociedade, devem votar no PSTU.logo

Para saber mais acesse o Programa de Governo da candidatura.
Eleições 2014: Entrevista com Zé Maria (PSTU), pelo viés da revista Vírus Planetário.
Veja também as outras entrevistas da série sobre as eleições 2014:
Luciana Genro
Mauro Iasi
Um olhar anarquista sobre as Eleições

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